Título: Concessionário banca aumento de IPI
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2009, Empresas, p. B7

Na véspera do aumento do IPI dos carros, parte das concessionárias já se comprometeu com o cliente a absorver o custo da elevação do tributo, que a partir de amanhã já subirá 1,5 ponto percentual nos modelos populares e 1 ponto nos automóveis com motor entre 1.0 e 2.0.

A estratégia foi usada para não perder aquele cliente que apareceu na loja nos últimos dias em que o benefício ainda estava valendo, mas não pôde levar o carro porque não havia disponibilidade imediata do modelo desejado.

Nesses casos a entrega ficou para outubro, quando o IPI já será maior. Mas parte dos concessionários que sabem que vão receber esses modelos no mês que vem optou por fechar o negócio pelo preço de setembro e bancar o prejuízo para não perder a venda.

Num carro mais simples a margem do revendedor fica em torno de R$ 1,5 mil. "Eu prefiro perder R$ 500 com a compra feita agora do que correr o risco de perder o cliente", conta um diretor de vendas de uma grande concessionária de São Paulo. "Quem garante que esse mesmo cliente vai voltar na loja quando o IPI subir?", questiona.

De fato, boa parte dos consumidores antecipou a troca de carro aproveitando o incentivo fiscal. "Como outubro provavelmente será um mês fraco, eu vou ter de acabar dando um desconto dos mesmos R$ 500" completa o executivo de vendas.

Os concessionários que optaram por bancar a primeira parcela da elevação do IPI nos modelos mais procurados não gostam de expor suas estratégias aos concorrentes. São revendas que têm cotas garantidas para outubro e, por isso, já se comprometeram com o cliente, por meio de contratos, a manter o preço de setembro.

Um gerente de vendas do interior de São Paulo conta que esse tipo de desconto só é possível agora porque o governo decidiu escalonar a volta das antigas alíquotas de IPI. "Se o aumento do imposto fosse de uma só vez isso seria impossível", diz.

Em meados de dezembro, o governo decidiu reduzir as alíquotas do IPI dos carros como forma de compensar a queda de vendas decorrente do aperto no crédito. Um decreto presidencial reduziu o IPI dos carros populares de 7% para zero. Para os modelos médios o governou cortou o tributo à metade - a alíquota passou de 13% para 6,5% (modelos movidos a gasolina) e de 11% para 5,5% (nos modelos flex).

Inicialmente, o governo pretendia manter o benefício até o fim de junho. Mas depois decidiu estendê-lo até setembro. Isso fez com que o mercado vivesse dois momentos de antecipação de compras de carros zero quilômetro. A primeira em junho e agora novamente em setembro.

O aumento do tributo, agora, será progressivo. A partir de outubro, o carro com motor 1.0 terá 1,5% de IPI. Ainda no popular, a alíquota será de 3% em novembro, 5% em dezembro e 7% novamente a partir de janeiro.

Para os automóveis com motores flex entre 1.0 e 2.0 (que hoje estão com metade da alíquota de 11%), a escalada será de 6,5% (outubro), 7,5% (novembro), 9% (dezembro) e 11% (janeiro).

Mesmo assim, a indústria se prepara para vendas mais fracas já em outubro, em razão, principalmente, da antecipação das compras nos últimos dias. A média diária de emplacamento de veículos no país em setembro passou de 13,5 mil. Esse volume superou as médias dos meses anteriores, entre 11 mil e 12 mil.

O acumulado de vendas de veículos no Brasil, de janeiro até o final da semana passada, chegou a 2,223 milhões de unidades, o que representa uma créscimo de 3,92% na comparação com igual período do ano passado. O número de licenciamentos acumulados em setembro já é mais de 1,9% maior que de igual período de agosto.

A expectativa da indústria ainda é que as vendas deste mês superem as de junho, quando inicialmente estava previsto o fim do IPI reduzido. "O movimento nas lojas indica que vamos ultrapassar", afirma o diretor de vendas da General Motors (GM), Nilson Martinez.

O executivo lembra, ainda, que o otimismo é resultado não apenas do benefício fiscal como do aumento da oferta de crédito e da confiança do consumidor. "As taxas de juros estão mais convidativas", destaca. Ele lembra que boa parte dos negócios está sendo fechada com juros mensais abaixo de 1,2%, sem contar as ofertas especiais sem juros em algumas modalidades de financiamento de alguns modelos de veículos.

Martinez lembra, ainda, a proximidade do pagamento do 13º salário. Isso indica que os vendedores de carros já se preparam para oferecer planos de financiamento com o pagamento da entrada somente na data do recebimento do 13º salário. Apesar disso, para o executivo da GM, somente o aumento do IPI em outubro já deverá refletir em uma queda de 5% nas vendas de carros no mês.