Título: Crédito cresce com reação da economia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2009, Finanças, p. C3

Motivada pela retomada da atividade econômica, a evolução positiva dos indicadores do mercado de trabalho e a melhora das expectativas de empresários e consumidores, a oferta de crédito bancário na economia brasileira voltou a crescer. Em agosto, a expansão foi de 1,5% em relação a julho, totalizando R$ 1,327 trilhão, o equivalente a 45,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo dados do Banco Central (BC) divulgados ontem, no período de 12 meses concluído em agosto, o aumento da oferta de crédito foi de 19,5%.

O aumento na oferta de crédito contribuiu para valorizar ontem as ações dos bancos no Ibovespa.

O incremento do crédito continua sendo liderado pelas operações com recursos direcionados. No mês passado, elas chegaram a R$ 417,8 bilhões, um aumento de 2,5% na comparação com julho. Em um ano, cresceram 33,9%, puxadas pelos empréstimos do BNDES, que respondem por 60,45% do crédito direcionado. Os financiamentos habitacionais e rurais também estão crescendo de forma acelerada - em agosto, aumentaram, respectivamente, 3,9% e 2,5%.

No caso das operações com recursos livres, que respondem por 68,5% do total do sistema financeiro, a expansão do crédito foi menor - de apenas 1,1% (13,9% em doze meses). O volume de crédito chegou a R$ 908,9 bilhões em agosto. Nessa modalidade, são os empréstimos às pessoas físicas os que mais têm avançado - 1,4%, face a 0,7% das pessoas jurídicas.

Há duas explicações possíveis para essa diferença. A primeira é que, com o avanço do crédito direcionado, que opera com juros subsidiados (bem abaixo da média cobrada pelo mercado), a importância relativa dos empréstimos com recursos livres, mais caros, é menor. Outra explicação é que, mesmo diante da percepção de que o Brasil já saiu da crise financeira internacional, muitos empresários ainda estão receosos em contratar novos investimentos.

No caso das operações de empréstimo a pessoas físicas, o destaque continua sendo o crédito consignado, cujas as taxas de juros são menores. De janeiro a agosto, essa forma de crédito, em que o empréstimo tem como garantia o salário do tomador, cresceu 24,2%. No caso das pessoas jurídicas, o crescimento foi determinado, segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, pelas operações de capital de giro, que aumentaram 3% em agosto.

Os bancos públicos, como vem ocorrendo desde o início do ano, seguem tomando mercado das instituições privadas, de acordo com as informações divulgadas pelo BC. Os números mostram que, em agosto, os bancos estatais aumentaram de 40,1% para 40,4% a sua participação na carteira de empréstimos do sistema financeiro. Dessa forma, praticamente empataram com os bancos privados nacionais, que existem em maior número e detêm 40,7% do total - as instituições estrangeiras, por sua vez, possuem 18,9%.

A grande novidade nos números divulgados ontem pelo BC foi a queda verificada nos juros do cheque especial - de 167,3% em julho para 161% ao ano em agosto. Trata-se do menor valor desde junho do ano passado, quando estava em 159,1% ao ano - nos meses seguintes, por causa da crise internacional, eles haviam subido de forma acentuada. A taxa de juro média do crédito pessoal recuou de 44,8% para 44,3% ao ano, a menor taxa desde 1994. Já a taxa média cobrada de pessoa física caiu de 43,3% para 42,5% ao ano, o menor percentual desde dezembro de 2007.

Numa prova de que o setor financeiro está voltando à normalidade depois dos primeiros meses de estresse da crise mundial, a taxa de juros média da economia brasileira caiu, em agosto, pelo 9º mês consecutivo - de 36% para 35,4%. Os spreads bancários também estão recuando - de 26,8 para 26,3 pontos percentuais entre julho e agosto. A taxa é ainda, porém, maior que a registrada em setembro de 2008 (mês em que a crise mundial se agravou), quando estava em 26,4 pontos. No caso das pessoas físicas, o spread médio, em agosto, chegou a 34,3 pontos percentuais. No caso das empresas, foi de 17,8 pontos percentuais.