Título: Celso Amorim vai para o PT e Paulo Skaf adere ao PSB
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Fonte: Valor Econômico, 01/10/2009, Política, p. A7

As filiações do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao PT, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao PMDB, são as adesões mais expressivas da intensa movimentação entre as legendas nestes últimos dias de prazo para que o político que quiser disputar as eleições de 2010 faça sua opção partidária.

Também é a última semana para eventuais trocas de domicílio eleitoral. A direção do PSB toma hoje a decisão final sobre a transferência ou não do domicílio eleitoral do deputado Ciro Gomes (CE) para São Paulo, com a finalidade de deixar uma brecha para a possibilidade de uma candidatura dele ao governo do Estado de São Paulo em vez da Presidência da República.

Disposto a concorrer ao Palácio do Planalto, Ciro já tinha desistido da ideia, mas jogou a responsabilidade da decisão para o PSB. Na cúpula nacional da legenda, havia ontem tendência de optar pela mudança. A alegação é que o quadro político pode sofrer alterações e o melhor é deixar todas as portas abertas.

O PSB de Ciro recebeu ontem a adesão do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que tentou entrar no PMDB, mas foi barrado pelo presidente do diretório estadual da sigla, o ex-governador Orestes Quércia. Uma filiação aguardada hoje pelo PSB é a do senador Adelmir Santana (DF), que deve deixar o DEM por questões da política local.

As principais movimentações partidárias estão se dando em partidos da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Na oposição, o PSDB tirou a deputada federal Rita Camata (ES) do PMDB. "Estou indo para ajudar a eleição do governador José Serra (SP) para a Presidência da República", afirmou ontem. No seu Estado, o PMDB do governador Paulo Hartung apoia a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

O PT ganhou Amorim, que não tem ainda projeto eleitoral para 2010, e espera a filiação do empresário Ivo Rosset, presidente da Valisère, e sua mulher, Eleonora Rosset, ex-Mendes Caldeira. O empresário apoiou Lula em 2002 e 2006, mas não tinha vida partidária.

Amorim pertenceu ao PMDB, mas também sem atuação partidária. O presidente do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), afirmou que o chanceler poder ser "opção para qualquer coisa" em 2010, mas por enquanto não tem nenhum projeto eleitoral. "Ele me disse que queria filiar-se ao PT para reafirmar sua identidade com o partido", disse o dirigente petista.

Berzoini atribui o troca-troca partidário à falta de cumprimento da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que o mandato é do partido pelo qual o político foi eleito. "O cumprimento dessa decisão não está sendo efetivo", afirmou, lembrando que o partido pediu o mandato do deputado Paulo Santiago, que deixou o PT alegando incompatibilidade programática, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou.

Agora, Berzoini afirma que o PT não vai mais reivindicar os mandatos dos que estão deixando a legenda. Dois deputados federais estão saindo - Luiz Bassuma, da Bahia, e Henrique Afonso, do Acre, ambos para o PV. O PT já havia perdido os senadores Marina Silva (AC), que foi para o PV, e Flávio Arns (PR), ainda sem partido.

No PMDB, a movimentação é intensa. O presidente do Banco Central filiou-se ontem, tornando-se opção para disputar o Senado Federal ou o governo do Estado. Há no partido, ainda, que o vê como opção para a Presidência e a Vice-Presidência na chapa de Dilma. O ex-ministro Mangabeira Unger também optou pelo PMDB, mas o partido ainda não tem projeto eleitoral para ele.

A legenda já perdeu três senadores: Expedito Júnior (RO), para o PSDB, Mão Santa (PI) e Geraldo Mesquita (AC), para o PSC. Ainda há expectativa com relação a Valter Pereira (MS). Mas o desfalque maior no PMDB está acontecendo em São Paulo, Estado do presidente nacional licenciado do partido, Michel Temer (SP), presidente da Câmara dos Deputados.

A responsabilidade por isso, segundo o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), é de Quércia. O dirigente local, aliado de Serra, teria vetado o prefeito de Campinas, Dr. Hélio (PDT), além de Skaf. "Ele vetou sem qualquer consideração", disse Alves. "Aqui em Brasília ele é democrata demais e lá no Estado é democrata de menos", completou, referindo-se ao pedido de Quércia a Temer, em Brasília, para que não fosse antecipado o acordo nacional com o PT em torno da candidatura Dilma.

O Democratas ingressou ontem no TSE ação para reivindicar o mandato da deputada federal Nilmar Ruiz, do Tocantins, que está indo para o PR. O presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ), afirmou que o partido vai pedir na Justiça o mandato de todo mundo que deixar a legenda. Ele comemora decisão do ministro Fernando Gonçalves, do TSE, na semana passada, segundo a qual não compete aos partidos autorizar a saída de políticos. Na interpretação de Maia, o Ministério Público "terá obrigação de pedir os mandatos e a Justiça decidirá".

O PR deve perder parlamentares da Igreja Universal do Reino de Deus, que pretende concentrar seus aliados no PRB.

Entre outras movimentações, estão deixando o PMDB os deputados Larte Bessa (DF), que vai para o PSC, acompanhar o ex-governador Joaquim Roriz - que se filiou ontem. Geraldo Pudim (RJ) está indo para o PR, seguindo os passos do ex-governador Antony Garotinho. O partido ainda perdeu para o PSC o deputado Carlos Alberto Canuto, de Alagoas, e ganhou Manoel Júnior, da Paraíba, que deixa o PSB.