Título: Promessa de novo bairro, metade da antiga Vila Olímpica está desocupada
Autor: Moura , Paola
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2009, Especial, p. A14

Dezessete prédios com 1.480 apartamentos, dos quais 90% vendidos em menos de um mês, em setembro de 2005, formam a Vila Pan-americana. A propaganda vendia um novo bairro entre Jacarepaguá e Barra da Tijuca com todo o luxo dos condomínios à beira mar, um investimento comparável ao feito pela população de Barcelona, cuja região portuária onde foi construída a Vila Olímpica foi transformada em centro turístico e comercial da cidade. Por enquanto, a maior parte das promessas não passa de um sonho. Hoje, menos de 50% das unidades de uma a quatro suítes estão ocupadas. Cerca de 500 mutuários se negaram a receber as chaves e entraram na Justiça para receber a entrada de volta, porque levaram um susto ao conhecer o saldo devedor na hora de habitar seus imóveis. Entre eles estava o ex-jogador Romário, que adquiriu 11 apartamentos no empreendimento.

Além disso, o projeto inicial, que previa a construção de um centro comercial e um clube para os moradores, ainda não foi concluído. Quem passa pela principal via que dá acesso à vila, a Avenida Ayrton Senna, vê tapumes da construtora Agenco e um estande de venda abandonado.

O advogado José Roberto de Oliveira, que defende cerca de 300 mutuários da Vila do Pan, explica que a propaganda do empreendimento imobiliário dizia que não seriam cobrados juros durante a obra. No entanto, na época da entrega das chaves o saldo devedor estava com aumento de cerca de 40% devido aos juros. "Muitos mutuários não quiseram esperar e acabaram fazendo acordo com a construtora", diz o advogado. A proposta aceita foi a de devolver 80% do que foi pago pelo mutuário no dia 15 de outubro deste ano.

Nem todos aceitaram a proposta. Rodrigo Carnut, advogado e presidente da Associação da Vila do Pan, conta que pagou cerca de R$ 97 mil de entrada num apartamento de 120 m2 que estava sendo vendido a R$ 215 mil. Como no valor estavam embutidas taxa de corretagem e de decoração, seu saldo devedor deveria ser de R$ 130 mil. No entanto, em 2007, quando foi pegar as chaves, o valor já estava em R$ 200 mil. Carnut se negou a receber as chaves, entrou na Justiça e não aceitou o acordo. "Vou brigar para receber o meu dinheiro corrigido e ainda indenizações por todo o meu prejuízo", afirma.

Segundo moradores que hoje residem na Vila do Pan, mas preferem não se identificar para não ver seus imóveis desvalorizados, dentro da Vila tudo funciona normalmente. Eles reclamam, no entanto, da prestação cara: um apartamento de três quartos paga prestação de R$ 4.100, e da alta taxa de condomínio em virtude de muitos imóveis estarem desocupados.

A Agenco alega que o centro comercial e o clube ainda serão construídos. Segundo seu diretor-técnico, Eduardo Lacerda, no folder de divulgação da Vila do Pan havia a explicação de que os dois empreendimentos seriam construídos junto com a expansão da vila. Lacerda explica que serão construídos no mínimo mais 23 prédios na área, que ficará com 40. "Hoje, a região ainda não comporta um centro comercial. Além disso, com a crise tivemos de dar uma freada nas construções", explica. Quanto à cerca e ao estande, Lacerda concorda que enfeiam a vila e o imóvel do empreendimento. Mas promete reutilizar a área para os lançamentos até o ano que vem. Para ele, depois que tudo for construído os imóveis se valorizarão em cerca de 30%. "A Vila vai ter outra cara."

Em relação ao problema com o saldo devedor, Lacerda disse estar impossibilitado de responder, já que não se trata de sua área na empresa. Ele informou que os outros executivos da Agenco estavam viajando. A empresa divulgou nota, na qual exalta a construção da vila e fala de seu sucesso com os atletas que a ocuparam. No entanto, não se refere aos problemas de financiamento.

As polêmicas do empreendimento não se restringiram à construção. Ainda durante o evento, o Tribunal de Contas da União (TCU) apurou uma série de supostas irregularidades nos contratos de prestação de serviço e instalação de equipamentos, que teriam causado superfaturamento de quase R$ 3 milhões. Os responsáveis foram convocados a dar explicações sob pena de serem multados. No entanto, processo foi arquivado e depende de nova fiscalização para saber se as explicações foram aceitas. (PM)