Título: Olimpíada no Rio pode gerar US$ 51 bi de investimentos
Autor: Moura , Paola
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2009, Especial, p. A14

Cada dólar investido nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro pode gerar outros US$ 4,26 para a economia brasileira como um todo. Como são previstos investimentos de US$ 14,4 bilhões, a aprovação da candidatura Rio 2016 pode transformar a quantia em US$ 51,1 bilhões para o país. Os números são parte de um estudo feito pela Fundação Instituto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo (USP), sob encomenda do Ministério do Esporte.

Exageros à parte, especialistas concordam que a vinda dos Jogos Olímpicos para o Rio de Janeiro terá um efeito multiplicador não só para a cidade como para todo o Brasil.

O estudo diz que para o Produto Interno Bruto (PIB), o impacto até 2027 será de US$ 24,5 bilhões, dos quais US$ 11 bilhões entre 2009 e 2016. Neste período, 53,6% serão no Rio de Janeiro e 46,4% no resto do país. Isso porque a maior parte da matéria-prima virá de fora já que o Estado é muito dependente da produção externa.

O secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, explica que para a construção de uma ponte, um estádio ou um prédio da Vila Olímpica, será necessário comprar aço e cimento que virão da Usiminas, da Votorantim ou de outras empresas do setor que estão em outros Estados. Isto serve também para o abastecimento de alimentos, bebidas e outros produtos que não são fabricados no Rio. Leyser ainda lembra que empresas instaladas em outros Estados também podem vencer as licitações que serão feitas na cidade.

Thiago Sucro, professor de MBA em Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan Escola de Negócios, explica que o legado econômico depende muito da importância da cidade-sede para o país e também da quantidade de investimentos feitos. "Atenas, por exemplo, tem 40% do PIB da Grécia. O Rio de Janeiro tem hoje 13%, mas com o petróleo do pré-sal deve crescer para 20%", afirma Thiago Sucro. Além disso, para o professor, o fato de o Brasil ter mais carências torna o evento mais importante.

No entanto, segundo Sucre, os números apresentados pelo governo são um pouco exagerados. Ele explica que a previsão de Londres é que o multiplicador no Produto Interno Bruto seja de 1,4. No Brasil, o governo vê 1,7, ou seja, com o investimento de US$ 14,4 bilhões, o impacto será de US$ 24,5 bilhões, dos quais US$ 11 bilhões até 2016 e US$ 13,5 bilhões entre 2017 e 2027. Segundo o professor da Trevisan tudo depende muito de como o governo vai utilizar e incentivar a capacidade instalada depois da Olimpíada.

A estrutura não pode ser subutilizada como é a dos Jogos Pan-americanos de 2007, também realizados no Rio de Janeiro. "Tem que aproveitar o know-how adquirido para promover outros eventos, como mundiais esportivos", sugere.

Sucro faz um alerta para que os outros Estados não fiquem de braços cruzados. "Se o resultado for positivo, é o momento deles aproveitarem a exposição do país lá fora para também se venderem". A ideia é aproveitar que o turista que viajará entre oito e 12 horas para chegar ao Rio de Janeiro pegue outro voo de pequena duração e conheça outras regiões do país. "Isto trará renda e empregos para todos."

Os dados da FIA mostram que a criação de empregos também sairá das fronteiras do Rio. Das 120.833 vagas previstas até 2016, 53,3% serão na cidade e 46,7% no resto do pais. No período depois dos Jogos, essa proporção se inverte. Serão mais 130.970 empregos diretos e indiretos criados, dos quais 58,1% fora do Rio de Janeiro. Segundo Leyser, isso se dá por conta da rede de abastecimento para a cidade. Como no Rio, a infraestrutura já estará montada, a criação maior de empregos se dará na rede de fornecedores.

Para o professor de Macroeconomia e Finanças do Instituto Insper, José Luis Rossi, o estudo da FIA é muito exagerado, principalmente quando diz que praticamente todo o investimento do governo, 97%, retornará em arrecadação. "Isso significa um custo praticamente zero para o governo. Não existe em lugar algum", afirma Rossi. Segundo ele, nos Estados Unidos normalmente o multiplicador de eventos é de um para um e o efeito de mais curto prazo. "Em Pequim, por exemplo, o governo não sabe o que fazer com o estádio Ninho do Pássaro", afirma Rossi.

O professor do Insper lembra que no projeto do governo estão incluídas obras que não são especificamente para a Olimpíada, como o Arco Metropolitano, obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nas favelas do Rio e a expansão do metrô. Estes sim têm efeito de longo prazo para a sociedade.

De fato, dois terços dos investimentos previstos para a Olimpíada devem ocorrer mesmo que amanhã o Rio não ganhe a competição contra Chicago, Tóquio ou Madri. "A maior parte continua independentemente da vitória. É que chamamos de legado da candidatura Rio 2016", explica o secretário Ricardo Leyser. O outro terço era de investimentos diretamente ligados aos Jogos Olímpicos como a construção da Vila Olímpica, ampliação de estádios e do centro de mídia. Leyser afirma também que o país ganhou muito em ter chegado à fase final da candidatura. "Tivemos acesso a toda documentação e bancos de dados que ensinam como fazer e planejar eventos desse porte, além de termos conseguido promover a cidade como favorita na mídia internacional", afirma.