Título: OHL quer investir em dessalinização
Autor: Teixeira , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2009, Empresas, p. B1

Quando foram lançadas nos anos 60 e 70, as primeiras usinas de dessalinização produziam água doce por destilação, a custos viáveis apenas para ilhas ou regiões realmente desérticas - preço do tratamento era calculado em US$ 5,00 por m3, equivalente a mil litros. No início dos anos 90, surgiu a tecnologia das membranas, também chamada "osmose inversa", que filtra a água ao invés de evaporá-la. Isso que derrubou o custo da operação. O método foi aprimorado e sua eficácia aumentou em 60% nos últimos 15 anos, fixando o preço do tratamento hoje em US$ 0,80 o m3, o que tem levado usinas do tipo a lugares improváveis. Veterana no ramo, a espanhola OHL tem desde 2000 uma usina Boston, nos EUA, em meio a uma região farta em recursos hídricos. E quer trazer as primeiras instalações para o Brasil.

Segundo dados levantados pela OHL, ainda que em São Paulo o custo de tratamento de água seja de R$ 0,90 ou R$ 0,80/m3, em cidades do Nordeste esse valor fica entre R$ 2,00 e R$ 4,00 - caso de Fortaleza, Natal e Maceió. Mesmo Florianópolis, notória pela falta de água na temporada, pode ser uma candidata ao sistema. Com um custo de R$ 1,40/m3, a dessalinização começa a tornar-se competitiva em regiões onde o acesso a água de qualidade está ficando mais difícil. No momento, a OHL está mapeando as cidades onde há déficit no fornecimento de água para propor projetos de expansão com a nova tecnologia.

O presidente da matriz espanhola da OHL Meio Ambiente, José Antonio Membiela Martínez, diz que empresa já opera 25 unidades de dessalinização na Espanha, tem duas na Argélia, duas no Chile e uma no México. Em Boston, apesar da abundância de água, a usina foi a melhor saída devido à legislação ambiental local, que restringe a utilização de água do lençol freático. No Chile e no México, as usinas ficam em regiões desérticas, mas nem por isso são saídas caras: no caso da planta mexicana, localizada em Los Cabos, na península da Califórnia, a água é mais barata do que a consumida na Cidade do México. "E a qualidade é idêntica à da água mineral", afirma Martínez.

Segundo o executivo, a OHL foi responsável pela construção da primeira usina de dessalinização do mundo, em Cabo Verde, em 1965, e pela primeira unidade da Espanha, nas Ilhas Canárias, em 1975. As unidades eram baseadas na tecnologia de vaporização de água, modalidade hoje em extinção - sobrevive apenas no Oriente Médio, onde o combustível é barato. "Mas mesmo lá estão se dando conta que vale mais a pena usar a tecnologia da membrana e vender o combustível que sobra", diz. Enquanto uma planta de vaporização consome 25 kW/h por m3 de água doce produzida, uma usina de "osmose inversa" usa 3 kW/h por m3.

Segundo o presidente da OHL Ambiental, a crise econômica mundial está mudando o foco de atuação da empresa para fora da Europa. Há projetos em negociação na Índia e na China, mas o maior objetivo, garante, é o Brasil. Hoje, a receita do Brasil corresponde a 15% do faturamento mundial da empresa, de ¿140 milhões, e o objetivo é elevar essa fatia para 50% em cinco anos. A idéia da dessalinização é apenas uma parte do projeto, que deve ser baseado em aquisições de concessionárias privadas e em parcerias com estatais locais. A empresa fez uma sociedade com a Sabesp no ano passado para levar a concessão de Mogi Mirim, e entrou no Brasil em 1999 comprando a concessão de esgoto de Ribeirão Preto da americana CH2MHill.

A maior esperança da empresa é a aprovação da lei do saneamento, publicada no fim de 2007, que exige que os municípios editem leis com metas de saneamento básico até o fim de 2010. Para a OHL, esta será a hora do crescimento no país, pois as companhias municipais e estaduais precisarão de ajuda do capital privado para fazer frente às metas. Imprimir Compartilhar| Empresas: