Título: Fundos de pensão compensam as perdas de 2008 com reação de ações
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2009, Finanças, p. C2
Com a valorização das ações este ano, os fundos de pensão conseguiram recuperar boa parte das perdas registradas com a crise de 2008 e devem fechar o ano mais próximos do superávit recorde de 2007, de R$ 74,9 bilhões. A maioria dos fundos tem como meta atuarial obter uma rentabilidade em seus investimentos de no mínimo 6% ao ano mais a variação da inflação medida pelo INPC. O superávit é o que ultrapassa esta meta.
Nos primeiros sete meses de 2009 a rentabilidade acumulada das carteiras dos fundos ficou em 11,71%, superando largamente a meta atuarial de 6,55% no período (INPC + 6%). O balanço foi apresentado ontem pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), na abertura do 30º Congresso anual dos fundos de pensão em Curitiba.
As projeções para todo o ano de 2009 apontam uma rentabilidade de 16,76% e superávit de R$ 64,3 bilhões. Nem por isso os administradores estão tranquilos. A queda da taxa de juros para 8,75% ao ano abriu um cenário preocupante para estes que são os maiores investidores institucionais do país. "Os fundos estão vivendo hoje, com a queda do CDI (os juros básicos praticados pelo sistema bancário) o que os bancos viveram com o fim da inflação nos anos 90", disse o consultor Everaldo França, da Portfólio Performance, referindo-se à forçada reestruturação bancária que se seguiu ao Plano Real.
De acordo com o balanço da Abrapp, os fundos fechados têm R$ 485 bilhões em patrimônio, dos quais US$ 460 bilhões estão aplicados em ativos financeiros e imóveis (posição de julho). Deste total, R$ 288,4 bilhões estão aplicados em ativos de renda fixa, a maior parte (R$ 224 bilhões) em títulos públicos. Na renda variável (ações, participações, fundos de renda variável) estão a US$ 137,5 bilhões, e R$ 13,7 bilhões em imóveis.
Atingir a meta atuarial está cada vez mais difícil com ativos de renda fixa, obrigando os administradores a avançar por investimentos de renda variável, mais rentáveis, porém mais arriscados. Uma ampla mudança das regras anunciada na semana passada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), dando maior flexibilidade aos fundos para aplicar em renda variável é o assunto principal do Congresso. O CMN autorizou os fundos a aumentar a exposição à renda variável de 50% para 70% dos ativos.
"Não vejo grandes mudanças em curto prazo", disse o presidente da Abrapp, José de Souza Mendonça. Ele admitiu, porém, que "algum risco" os fundos de pensão vão ter que correr, já que não existem mais em oferta os títulos públicos remunerados a 12% ao ano que garantiram o cumprimento das metas atuariais com folga e sem muito esforço até agora.
Por outro lado, segundo o presidente da Abrapp já está se acelerando a migração de planos com metas atuariais de 6% para 5%. Hoje as de 6% são ainda a grande maioria, 82% dos planos.
O declínio do mercado acionário no segundo semestre de 2008 em todo mundo jogou para baixo a rentabilidade das carteiras dos fundos, que ficou negativa em 1,6%, enquanto a meta atuarial média era de 12,87%. Foi o pior desempenho desde 1998 quando, influenciado também pela derrocada dos mercados pela crise da Rússia, os fundos fechados tiveram rentabilidade de 7,3%, abaixo da meta atuarial de 8,6% no ano.
O bom desempenho em 2009 foi obtido com a ajuda da valorização de 40,76% registrada pelo IBX-50, garantindo um retorno de 25% à carteira de ações. Já os ativos de renda fixa acumularam rentabilidade de 6,46% até julho, pouco acima dos 6,16% do CDI.
"Se ficar do jeito que está, tá bom", afirmou Fabio Moser, diretor de investimentos da Previ, o maior fundo de pensão do país que, segundo ele, está com rentabilidade acumulada positiva de 16,7% até agosto, recuperando os 24% negativos de 2008. Moser disse que as alterações na carteira da Previ não serão tão significativas porque o fundo já chegou a ter 62% da carteira aplicados em ações e estava, pelas regras antigas, buscando enquadramento a 50% até 2014. "É um fundo maduro, que paga R$ 6 bilhões em benefícios anuais e precisamos de recursos" (disponíveis para cumprir este compromisso), afirmou Moser.