Título: Crescimento acelerado da economia deve demorar
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2009, Finanças, p. C8

A recessão global está perto do fim, mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) avisa que o mundo só voltará a crescer num passo acelerado como o observado antes da crise se novas fontes de dinamismo ocuparem o vazio criado pelo retraimento dos consumidores dos países mais desenvolvidos.

Num relatório que será apresentado hoje em Istambul, na Turquia, o Fundo prevê que a economia mundial crescerá 3,1% no ano que vem, após uma contração de 1,1% neste ano. Os economistas da organização esperam uma contração de 0,7% no Brasil neste ano e crescimento de 3,5% no próximo.

De acordo com as novas projeções do Fundo Monetário, os países emergentes continuarão crescendo com mais vigor que os países ricos.

A China, que deverá crescer 8,5% neste ano, dará um salto de 9% no próximo. O mundo cresceu em média 5% ao ano no prolongado ciclo de expansão que antecedeu a crise.

Na avaliação do FMI, a recuperação da economia mundial ainda é baseada em pilares frágeis, como o processo de recomposição de estoques que reanimou a atividade industrial em vários países nos últimos meses, e ainda não existem fontes de demanda capazes de sustentar o crescimento global por mais tempo.

O economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, disse que os consumidores dos Estados Unidos, do Reino Unido e de outros países ricos que se endividaram muito e foram especialmente afetados pela crise estão "traumatizados" e poderão levar "meses, ou anos" para voltar às compras.

A desvalorização dos imóveis e o aumento do desemprego fizeram encolher o patrimônio e a renda das famílias americanas, que entraram na crise muito endividadas e agora estão voltando a poupar. Muitas indústrias americanas deixaram suas fábricas ficar ociosas com a crise e só pretendem voltar a investir quando houver sinais claros de que haverá demanda.

Sem o aparecimento de novas fontes de dinamismo no setor privado para substituir esses consumidores, existe o risco de a economia mundial voltar a se contrair dentro de alguns meses ou continuar crescendo devagar por muito tempo, disse Blanchard numa mensagem de vídeo distribuída pela assessoria do Fundo.

Para o Fundo Monetário, o estabelecimento de um padrão de crescimento mais duradouro para a economia mundial vai depender de ajustes difíceis e demorados, incluindo a reestruturação do sistema financeiro e reformas que estimulem o consumo doméstico em países exportadores como a China e a Alemanha. O FMI acredita que seria prematuro desativar agora os programas de estímulo fiscal que vários países lançaram para atenuar os efeitos da recessão, mas o relatório do Fundo recomenda que países como os EUA tomem logo medidas para evitar que a dívida pública escape ao seu controle.

Os economistas da instituição dizem que os EUA e outros países avançados poderão manter por um bom tempo a política monetária frouxa que adotaram para combater a crise, sem precisar aumentar os juros para conter pressões inflacionárias e dando mais tempo para a atividade econômica se recuperar.

O relatório do Fundo Monetário observa que os bancos públicos deram uma contribuição importante no Brasil para manter a oferta de crédito para o setor privado na fase mais aguda da crise, mas recomenda que a evolução da carteira desses bancos seja monitorada com atenção para evitar que sejam cometidos excessos que mais tarde poderiam comprometer as contas do governo. (RB)