Título: FMI aponta fragilidade de seguradoras, bancos e fundos
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2009, Finanças, p. C8

Bancos americanos e europeus precisam de um reforço substancial em suas reservas de capital para se proteger contra novos choques e garantir a oferta de crédito necessária para sustentar a recuperação da economia global, disse ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em seu novo relatório sobre a estabilidade do sistema financeiro mundial, o Fundo estima que os bancos dos países avançados ainda precisarão reconhecer US$ 1,5 trilhão em prejuízos causados pela crise e afirma que os riscos de crédito que ameaçam suas carteiras permanecem elevados, apesar das melhorias observadas nos últimos meses.

O FMI calcula que os prejuízos sofridos por bancos, seguradoras, fundos de pensão e outras instituições financeiras atingidas pela crise iniciada em 2007 vão alcançar US$ 3,4 trilhões até o fim do próximo ano. As perdas dos bancos deverão somar US$ 2,8 trilhões, dos quais US$ 1,3 trilhão já foi contabilizado até o primeiro semestre deste ano.

Segundo o relatório, as receitas dos bancos serão insuficientes para cobrir esses prejuízos mesmo com a retomada da atividade econômica. "Os bancos precisam de mais musculatura para voltar a emprestar", afirmou o chefe do departamento do FMI que monitora os mercados de capitais, José Viñals, ao apresentar o relatório em Istambul, onde o Fundo fará sua reunião anual na próxima semana.

As novas projeções do FMI são mais otimistas do que as apresentadas pela instituição em abril, quando estimou em US$ 4,1 trilhões o valor total dos prejuízos provocados pela crise desde 2007. O Fundo atribuiu a nova projeção à valorização sofrida por alguns ativos dos bancos e outros reflexos da recuperação da economia mundial.

O Fundo recomendou aos bancos que conduzam seus negócios de maneira cautelosa e resistam à "tentação" de aproveitar o atual cenário econômico mais favorável para voltar a distribuir dividendos e outros benefícios a seus acionistas. "Conservar capital é muito importante nesta altura", disse Viñals.

O FMI prevê que a inadimplência no mercado imobiliário americano e as dificuldades das empresas que estão saindo machucadas da recessão continuarão criando problemas para as carteiras de crédito dos bancos, contribuindo para a maior parte dos prejuízos que ainda terão que ser reconhecidos nos próximos meses.

Os bancos também precisarão de mais capital para se adaptar a novas exigências nos próximos anos. O Comitê de Supervisão Bancária de Basileia e outros órgãos reguladores estudam várias medidas para impor disciplina às instituições financeiras, tornar o sistema mais seguro e aumentar a confiança dos investidores nos balanços dos bancos.

O FMI calcula que os maiores bancos americanos e europeus precisariam levantar US$ 670 bilhões em capital se tivessem que manter índices de capitalização mais exigentes que os adotados hoje em dia e respeitar limites à alavancagem semelhantes aos que os órgãos reguladores internacionais estão discutindo.

Desde o início da crise, em 2007, bancos americanos e europeus levantaram US$ 930 bilhões em capital. As estimativas do Fundo sugerem que os bancos europeus estão em geral menos capitalizados que os americanos e ainda não reconheceram mais da metade dos prejuízos provocados pela crise.

Alguns dos maiores bancos europeus tiveram perdas significativas com empréstimos feitos a países emergentes do Leste Europeu nos anos anteriores à crise. Esses países foram à lona quando suas fontes de capital externo secaram e tiveram que recorrer ao FMI para continuar se financiando.

A Ásia e a América Latina conseguiram resistir melhor à crise e o Fundo reconhece isso. Mas o relatório do FMI observa que a oferta de crédito na América Latina só voltará a crescer com vigor depois que os bancos se sentirem mais seguros com a força da recuperação da economia na região e nos EUA.