Título: No plano local, PMDB ainda expõe divisão
Autor: Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 13/06/2010, Cidades, p. 28

Apesar da antecipação da chapa Agnelo-Filippelli e da confirmação da aliança nacional, lideranças do partido no DF trocam farpas

Apesar de o PMDB ter confirmado oficialmente ontem a aliança nacional com o PT na corrida eleitoral à Presidência da República, durante convenção da executiva nacional da legenda, em Brasília, representantes do partido no Distrito Federal ainda expõem divergências internas quanto à escolha da chapa formada por Agnelo Queiroz (PT) e Tadeu Filippelli (PMDB) para a disputa do Palácio do Buriti, em outubro. Na última quinta-feira, os dirigentes locais dos dois partidos anunciaram que Agnelo será candidato a governador, com Filippelli como seu vice, embora a convenção local do PMDB esteja marcada apenas para o próximo sábado. Apesar desse anúncio antecipado, a semana promete ser de muitas negociações e embates internos. Até 48 horas antes da convenção regional, novas candidaturas podem ser apresentadas.

Visivelmente descontente com o anúncio do casamento entre Agnelo e Filippelli, o governador Rogério Rosso (PMDB) voltou a defender ontem, durante a convenção nacional no Centro de Convenções, uma candidatura própria do partido no DF. ¿Na minha opinião, essa via alternativa poderia ganhar a eleição. Não é o meu nome que defendo, tem milhares de filiados no PMDB e há mais de 40% de indecisos nas ruas. Mas quem dirige o partido é o Tadeu (Filippelli), não precisa nem de convenção¿, ironizou, ao dizer que o presidente regional do PMDB antecipou para uma semana antes das convenções regionais a divulgação da aliança.

Questionado se uma eventual candidatura de Rosso ao Palácio do Buriti está descartada, o governador-tampão respondeu que a preocupação maior é governar, mas disse que, diante de ¿tantos problemas e dificuldades, às vezes até dá vontade de pensar nisso¿. Logo depois, o governador quis deixar claro que em nenhum momento falou que era candidato ao GDF.

Rosso teve uma passagem rápida pela convenção nacional do partido. Por volta do meio-dia, chegou ao local acompanhado pela vice-governadora Ivelise Longhi, também do PMDB. O governador votou e fez questão de mostrar que o escolhido para ser vice na chapa da petista Dilma Rousseff na sucessão de Lula era o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer ¿ que também preside nacionalmente a legenda.

Mas o apoio dado pelo governador à aliança nacional com o PT não será seguido por ele em âmbito local. Na saída do Centro de Convenções, Rosso teve um encontro casual com Tadeu Filippelli. Os dois colegas se cumprimentaram rapidamente e até posaram juntos para uma foto, mas o clima de desconforto era evidente.

Forçação de barra Apesar da disputa interna, o presidente regional do PMDB, Tadeu Filippelli, disse que não há briga nem racha entre ele e Rogério Rosso. Filippelli esclareceu que o anúncio da aliança entre ele e Agnelo Queiroz foi feito sob o conhecimento e consulta do governador. ¿Em todas as reuniões, com diversas testemunhas, ele (Rosso) reafirmou a determinação de não ser candidato e que também entendia o compromisso assumido com os outros partidos que o elegeram também¿, disse o presidente.

O candidato declarado ao vice-governo do DF acredita ser impossível, a uma semana da convenção regional do partido, falar sobre uma outra candidatura local dentro do PMDB. ¿Uma candidatura se constrói, não se anuncia. Se fosse para o PMDB ter candidatura própria, a postura do governo teria que ser outra. Estão forçando a barra. É uma atividade subterrânea que deve estar interessando a alguma interferência de fora (do partido).¿

Apesar das afirmações de Filippelli, o vice-presidente do PMDB no DF, Odilon Aires, é cauteloso ao falar sobre a chapa PT-PMDB. Segundo ele, o partido é democrático e deixa espaço para negociações e entendimentos mesmo a menos de uma semana da convenção regional. ¿Na política, o tempo esgota, mas a conversa, não. O estatuto do PMDB permite que haja registro de candidatura a 48 horas da convenção¿, explicou. Aires descartou a hipótese de ser candidato ao GDF, mas disse que o destino de Brasília, a partir de agora, está nas mãos de Rosso e Filippelli. Para o líder do partido na Câmara dos Deputados, Henrique Alves, a situação do DF já está concluída. ¿Tem que se assumir que já está resolvido. Filippelli é uma forma vitoriosa.¿

Entrevista - Rogério Rosso

Por que a chapa PT-PMDB desagrada ao senhor? Não tenho nada contra a chapa Agnelo e Tadeu Filippelli. Eu só acho que é uma chapa que perde as eleições. Porque é uma chapa que não traduz, na minha avaliação, o sentimento da população do ponto de vista eleitoral. É só ver as pesquisas. O PMDB teria uma chance muito grande, com muitos nomes. Por que tem que ser uma chapa PT-PMDB, e não PMDB-PT?

Mas ainda há tempo para lançar outra chapa? Quem dirige o partido é o Filippelli. Ele nem esperou a convenção para a divulgação da chapa. Ele antecipou uma decisão antes das convenções.

Mas essas vozes contrárias ao casamento anunciado têm força para mudar o jogo? Não sei. Não tenho conversado com nenhuma delas. O PMDB é um partido democrático. As grandes bandeiras de Ulysses (Guimarães) são a liberdade de expressão, redemocratização, debate. Não estou podendo nem falar o que penso. Já foi feita uma construção. Construção com quem, com a sociedade? Eu serei criticado por uma pequena parte do PMDB do DF porque sou divergente da composição. Tenho profundo respeito pelo Agnelo, muitos amigos no PT, porém eu entendo que há possibilidade de construir um segundo palanque para Dilma (Rousseff). O meu voto foi para o Michel Temer para ratificar o projeto do Lula. Mas a polarização de forças no DF, novamente, não é boa para Brasília. O debate não fica tão enriquecido. O PMDB perde uma opção não para ele, mas para um conjunto de forças partidárias.

Representantes da executiva nacional do partido criticaram a postura do senhor de nunca tê-los procurado para debater as eleições no DF¿ De fato, eu estou muito preocupado com o dia a dia do governo. Vocês estão acompanhando a quantidade de problemas que nós estamos resolvendo. Mas cada um tem a sua opinião. Na medida em que se antecipa, não existe um debate com o partido, antes mesmo de uma convenção. Aí sim você deve se manifestar, se sentir legitimado a falar. Não vou me calar e deixar de emitir opinião minha.

O senhor critica a decisão de antecipar a aliança PMDB-PT só porque lhe desagrada ou porque tem vontade de participar da chapa? Não sou eu quem tenho que querer ser candidato. O partido tem que primeiro tomar uma decisão. A aliança Agnelo-Filippelli é a aliança que o partido quer? Não sendo, o PMDB tem condições e nomes para ter uma chapa alternativa? Tirando a executiva do PMDB, que já discutiu sobre isso, quem decide que caminho vai tomar, pelo menos a legislação eleitoral é assim, é a convenção do partido.

Entrevista - Tadeu Filippelli

A costura da aliança local com o PT foi informada ao governador Rogério Rosso? Todos os passos que nós demos ao longo da costura desse entendimento foram informados ao Rosso. No dia da (reunião da) executiva local, há 15 dias, o Rosso foi consultado sobre o fato de ser candidato. De forma nenhuma manifestou vontade de ser candidato. Em todas as reuniões, ele reafirmou a determinação de não ser candidato e que também entendia o fato do compromisso assumido com outros partidos que o elegeram. E também a situação do DF, sob ameaça de uma intervenção. À véspera do anúncio da chapa, tomei o cuidado de ir à casa dele para dizer que o evento não teria nenhuma pessoa do Executivo.

Ainda há tempo hábil de lançar uma outra candidatura do PMDB no Distrito Federal? É impossível falar sobre isso. Uma candidatura se constrói, não se anuncia. Essa eleição é uma eleição diferente. Tem o voto popular. Não é eleição indireta, onde apenas 13 ou 24 deputados vão votar.

Mas há espaço para que esse assunto seja tratado na executiva nacional? Existe compromisso do partido em não ter candidatura própria. Gente, vamos deixar claro: existe o compromisso do partido de que aquele que fosse eleito pela eleição indireta não participasse da eleição ao governo do DF. Mesmo assim, existe muita especulação sobre uma outra candidatura ¿. Existe uma forçação de barra estúpida, mas não há até agora uma declaração da boca do Rosso dizendo que gostaria de ser governador. Sempre é dito por alguém. Portanto, é no mínimo estranho e incoerente uma mudança em menos de 24 horas. Essa não é a vontade nacional do partido. É a alguém de fora do partido que interessa isso.

Entre alguns peemedebistas, não haveria o temor de que, caso a chapa PT-PMDB ganhasse a eleição, o partido perderia espaço? Não estamos brigando por espaço político entre PT e PMDB. Não houve temor do PT em manifestar apoio ao Rosso nas eleições indiretas. Por que o oportunismo agora? O Rosso também foi eleito com voto do DEM, que estava no governo antes, e de outros partidos. Chega a ser imaturidade política esse tipo de pensamento.

Ainda existe a possibilidade de o partido abrir mão da chapa com Agnelo antes da convenção de sábado? Estamos hoje consolidando uma aliança PT-PMDB, com o PT na cabeça. Por que a aliança em nível nacional pode e em regional não? No DF, isso foi construído. Meu nome foi aprovado no PT com quase 75% dos votos convencionais. O PMDB aprovou por unanimidade meu nome. E o PT, com atrito ou não, nos ajudou na eleição do Rosso.