Título: Proteção e custo estável ajudam calçadistas
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2009, Brasil, p. A5

Passado o susto provocado pelo estouro da crise econômica em 2008 e apesar do desempenho ainda fraco das exportações, as indústrias calçadistas chegam ao quarto trimestre de 2009 com o ânimo revigorado. Com as encomendas do varejo em expansão no mercado interno desde a metade de agosto, os custos de matérias-primas estáveis há cerca de um ano e a tarifa antidumping de US$ 12,47 por par de calçado importado da China, imposta pelo governo em setembro, algumas empresas estão revisando para cima as projeções para o acumulado do ano e já planejam fazer novos investimentos em 2010.

A West Coast, de Ivoti (RS), aumentou de zero para 10% a previsão de crescimento na produção deste ano em comparação com 2008, para 2,2 milhões de pares de calçados masculinos e femininos, disse o diretor de operações, Paulo Schefer. Segundo ele, as vendas para todo o quarto trimestre foram concluídas um mês antes do prazo normal de 20 de outubro e vão superar em mais de 10% as realizadas no mesmo período de 2008. O financiamento aos lojistas é feito pela própria empresa, com prazo médio de cem dias.

Em setembro a West Coast implantou uma nova linha de montagem de calçados masculinos em Ivoti, com capacidade para 30 mil pares por mês, e ampliou o quadro em 45 funcionários, para 500 pessoas. Para fevereiro, o plano é colocar mais duas linhas desse porte em uma das três facções terceirizadas no Rio Grande do Sul ou abrir uma nova fábrica fora do Estado. Na primeira hipótese o investimento chega R$ 2 milhões e na segunda, a R$ 5 milhões.

A Bibi, de Parobé (RS), restabeleceu a meta original de 5% de crescimento no volume de produção de calçados infantis no acumulado do ano, ante os 3,1 milhões de pares de 2008, disse o presidente Marlin Kohlrausch. No fim do primeiro semestre a projeção havia sido reduzida para zero, mas agora o otimismo retornou. Conforme o empresário, a aceleração das encomendas pelo varejo também reflete os primeiros efeitos da tarifa antidumping contra a China.

A Piccadilly, fabricante de calçados femininos com sede em Igrejinha (RS), está um pouco mais cautelosa. As encomendas para o fim do ano estão "um pouco acima" das realizadas para o terceiro trimestre, mas permanecem em linha com o mesmo período do ano passado enquanto a empresa esperava uma alta de 10%, explicou o diretor-comercial, Marlon Martins.

Segundo o executivo, depois de uma "arrancada boa", as reposições dos estoques para o verão não estão ocorrendo na velocidade esperada em função do clima desfavorável e ainda de um pouco de cautela dos lojistas. Para o acumulado do ano, a Piccadilly projeta uma expansão de 7% a 10% sobre a produção de 8,5 milhões de pares de 2008.

As exportações é que não andam muito bem, devido a fatores já conhecidos como o real valorizado e a demora nas liberações de licenças de importação na Argentina. Na Piccadilly o mercado externo vai permanecer na faixa de 30% da produção no ano em função do bom volume de embarques no primeiro semestre, quando o dólar estava um pouco mais valorizado.

Já na West Coast a participação das exportações deve cair de 30% para no máximo 25% da produção, disse Schefer. O país vizinho, que absorvia 30% das vendas externas da empresa, vai cair para 15% dos embarques neste ano. Na Bibi, que até 2008 mandava 20% das exportações para os argentinos, a situação é semelhante e a participação do mercado externo sobre a produção total deve encolher dez pontos percentuais em 2009, para 20%, calcula Kohlrausch.