Título: PT avalia que só Lula pode resolver conflitos com PMDB
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2009, Política, p. A14

A cúpula do PT aposta na intervenção direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para impedir o lançamento da candidatura do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), ao governo do Rio de Janeiro em 2010. O partido apoia a eleição do governador Sérgio Cabral (PMDB) para reforçar a aliança nacional com os pemedebistas.

"Está passando da hora de o presidente Lula ter essa conversa com Lindberg. Já demos vários sinais ao presidente de que isto é necessário mas, por enquanto, ele está se fazendo de desentendido", avisou um integrante do Diretório Nacional do PT.

Na semana passada, Lindberg declarou que pretende manter sua candidatura, ainda que o presidente Lula tente demovê-lo da ideia. O prefeito argumenta que sua candidatura ajudará a campanha nacional e dará mais um palanque no Rio a Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e pré-candidata à sucessão presidencial pelo PT. Um petista próximo ao presidente disse que Lula demonstrou, em alguns eventos públicos, a preferência por Cabral. E que chamará Lindberg para uma conversa no momento que considerar mais apropriado.

"Lindberg acirra o discurso, mas deixa uma brecha para o diálogo ao frisar que é homem de partido", diz um parlamentar do PT. "A situação do presidente não é fácil. Ele gosta muito de Cabral, mas aposta em Lindberg como um nome para ressuscitar o prestígio do PT fluminense", afirma um integrante do Diretório Nacional do partido.

Ao defender a manutenção da candidatura do PT ao governo fluminense, Lindberg argumenta que Lula também não interveio na Bahia e no Pará, Estados onde PT e PMDB deverão ter candidatos próprios. "Esses três estão nas rodas de conversas de todos os petistas quando discutimos a relação conturbada com o PMDB", diz um dirigente.

A situação dos três Estados será tratada pelo grupo de trabalho eleitoral do PT, formado na semana passada pela direção partidária. Na análise do secretário Nacional de Assuntos Institucionais do PT, Romênio Pereira, um dos integrantes do grupo, a prioridade do partido deve ser a reeleição de petistas - caso do Pará e da Bahia - e apoio ao PMDB onde o partido tentar um novo mandato, como no Rio. "Defendemos que os Estados tenham autonomia, mas deixamos claro que o projeto nacional deve estar acima das disputas regionais", disse Pereira. "Acho natural buscar aliança com Sérgio Cabral, mas deve ser um processo sem traumas", comentou Pereira.

Na Bahia, maior colégio eleitoral comandado pelo PT, o pemedebista Geddel Vieira Lima (ministro da Integração Nacional) rompeu com o governador Jaques Wagner (PT) depois de uma aliança vitoriosa em 2006. A briga começou na eleição municipal de Salvador, quando o PT lançou Walter Pinheiro como candidato em vez de apoiar a reeleição de João Henrique (PMDB).

A ruptura entre PMDB e PT foi oficializada em agosto, quando os pemedebistas entregaram os cargos que possuíam no governo estadual: a secretaria de Indústria e Comércio, de Infraestrutura e até mesmo o comando da Junta Comercial, dirigida pelo pai de Geddel.

A cisão repetiu-se no Pará, quando o PMDB, comandado pelo deputado Jader Barbalho - que foi fundamental na eleição da governadora petista Ana Júlia Carepa -, também entregou os cargos que ocupava no governo.

A exemplo do episódio Lindberg, Lula não conversou com Geddel nem com Jader sobre os rompimentos nas parcerias. Um ministro próximo ao presidente disse ao Valor que Lula está atento aos movimentos políticos estaduais, mas só vai conversar sobre eles quando o cenário nacional estiver consolidado. Não adianta, na opinião do presidente, fazer pedidos pontuais se o PMDB e o PT não formalizarem a aliança em torno da candidatura de Dilma Rousseff.

"Lula viajou com Temer [Michel Temer, presidente licenciado do PMDB] e com Sérgio Cabral para Copenhague. Conseguiu trazer a Olimpíada de 2016 para o Rio de Janeiro. Vamos ver se alinhavou também a aliança política com o PMDB", disse um dirigente petista.

As avaliações sobre o rompimento da aliança PT-PMDB na Bahia e no Pará são diferentes, tanto no governo quanto entre os petistas. Na briga baiana, avalia-se que Geddel se precipitou. "Na Bahia, a política ainda é muito preto no branco. O eleitor não sabe diferenciar alguém que não seja DEM (carlista) ou PT (esquerda). Geddel tenta se inserir neste meio termo, mas se enfraqueceu politicamente e acabou isolado", afirmou um companheiro de ministério.

Apesar da frustração do PT com a iniciativa de Geddel, a avaliação da cúpula partidária é que tal isolamento pode levar o ministro a recuar de sua decisão. Por ser ministro do governo Lula, Geddel não poderia aproximar-se do PSDB e DEM no Estado, durante a campanha eleitoral. Ao mesmo tempo, não poderia atacar o candidato do PT, sob o risco de Jaques Wagner se reeleger e ele ficar mais isolado politicamente. A oposição sonda Geddel para tê-lo no palanque em 2010.

A situação do Pará é mais complexa. Embora alguns petistas achem que um movimento de aproximação é possível, temem as conversas de Jader Barbalho com o PSDB de Almir Gabriel e Simão Jatene. "Eles apoiaram Ana Júlia em 2006, em um momento que o diálogo com os tucanos estava estremecido. Hoje, a aproximação existe e nada impede que eles firmem uma aliança em 2010 contra nós", reconhece um dirigente do PT.