Título: Compra de carro investigada
Autor: Bernardes, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2010, Política, p. 10

Depoimentos no caso das servidoras fantasmas indicam que motorista adquiriu veículo de R$ 100 mil a pedido do senador Efraim Morais. Polícia Legislativa quer descobrir a origem do dinheiro

A informação sobre a compra de um carro efetuada pelo motorista Antônio Sérgio Rocha Bicalho a pedido do senador Efraim Morais (DEM-PB) virou foco da investigação que apura envolvimento do parlamentar com esquema de contratação de funcionários fantasmas. Em depoimento à Polícia Legislativa do Senado, a chefe de gabinete do senador, Mariângela Cascão, e secretária parlamentar informara que o motorista do senador ¿ que é pai de Mônica e Kátia da Conceição Bicalho, pivôs do escândalo das contrações irregulares no gabinete ¿ teria negociado o veículo por R$ 100 mil

Os investigadores tentam apurar a origem dos recursos utilizados para o pagamento do carro. A polícia suspeita que a aquisição do veículo pode ter funcionado como forma de lavar o dinheiro oriundo do salário de fantasmas e vai pedir a quebra do sigilo bancário do motorista de Efraim para apurar indícios que comprovem movimentação de recursos vindos do pagamento de funcionários do Senado. Bicalho é servidor aposentado da Câmara dos Deputados e trabalha, segundo a assessoria do senador, como motorista contratado do gabinete.

Em nome de Antônio Sérgio Rocha Bicalho existem quatro carros avaliados em pelo menos R$ 110 mil, um deles um Pajero Mitsubishi, ano 2007. Na lista de carros de luxo emplacados no nome de Bicalho também já estiveram modelos como picapes Hilux e S10, um Corolla e um Astra. Apesar de os veículos constarem no nome de Bicalho, existe a possibilidade de os carros não estarem mais em sua posse, pois de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro o proprietário tem 30 dias para fazer a transferência em caso de venda.

O Correio entrou em contato com o escritório que representa Mônica e Kátia, mas o advogado informou que ainda não foi contratado para atuar em defesa do pai delas, do irmão Ricardo Luiz e da mãe, Nélia da Conceição Bicalho, testemunhas intimadas a depor na polícia do Senado, mas que têm resistido às convocações.

Inquérito Apesar de o inquérito já abordar diretamente o nome do parlamentar, com indicação de duas funcionárias sobre a responsabilidade de Efraim na contratação de funcionárias que pelo conhecimento notório do gabinete nunca apareceram para trabalhar, a corregedoria da Casa ainda não recebeu formalmente o parecer do diretor da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, notificando o senador Romeu Tuma (PTB-SP) sobre o envolvimento de Efraim.

As revelações contidas no depoimento de Mariângela colocaram Efraim no centro das irregularidades cometidas nas contratações. A chefe de gabinete chegou a afirmar, inclusive, que após Kátia deixar de comparecer ao trabalho o senador teria instruído os funcionários a não pressionarem pela presença da filha de Bicalho. Tuma já decidiu abrir sindicância na corregedoria da Casa para apurar participação de Efraim no escândalo dos fantasmas. Mas Tuma e o diretor da Polícia Legislativa entraram em acordo para que o parecer seja enviado à corregedoria após os depoimentos de Bicalho, Nélia e Ricardo Luiz. Já movimentação da conta-corrente das estudantes Kelly Janaína Nascimento da Silva e Kelriany Nascimento da Silva, funcionárias fantasmas contratadas por intermédio de Kátia e Mônica, mostram transferências para a família Bicalho.