Título: Usuário busca opções para driblar preço
Autor: Moreira, Talita ; Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2009, Empresas, p. B3

A dona de casa Ana gosta de passar as tardes navegando no Orkut e conversando com os amigos no MSN, o popular programa de mensagens instantâneas. Ela vive com o marido numa casa simples, mas bem arrumada, na favela do Jaguaré, e paga R$ 25 mensais para o acesso à internet em alta velocidade.

Ana não consta, porém, da lista de clientes de nenhuma companhia. Ela paga essa quantia a um morador da vizinhança, que compra o serviço de uma operadora e o "revende" a algumas pessoas que moram ao redor.

Casos como esse têm proliferado na periferia das grandes cidades. A internet "a gato" pode ser facilmente encontrada nas comunidades aonde chegam as redes das operadoras de telefonia fixa e TV por assinatura. É um quadro que mostra de forma nítida a importância que o acesso à web vem ganhando nesses locais e o "jeitinho" adotado pelos moradores para driblar a barreira do preço. O custo de uma assinatura de banda larga no Brasil, elevado devido a uma série de impostos, está entre os mais altos do mundo.

Mas nem só de conexões clandestinas vivem os internautas que moram nas favelas e nos bairros mais pobres. Existe, também, demanda pelas ofertas oficiais de serviços. Meses atrás, a Telefônica ativou uma central de banda larga em Campo Limpo, região pobre na zona Sul da capital paulista. As linhas disponíveis, surpreendentemente, se esgotaram em dois dias.

Movimentos como esse passaram a ser levados em conta na destinação dos investimentos das operadoras. "A gente analisa de onde está vindo a demanda dos últimos meses para decidir a alocação dos novos investimentos", diz Fabio Bruggioni, diretor de clientes residenciais da Telefônica. Segundo ele, é das periferias que tem vindo grande parte da procura pelos serviços.

As redes de telefonia fixa nem sempre chegam às favelas, até mesmo devido a uma limitação técnica: a distância das centrais telefônicas piora a qualidade do sinal e a velocidade de acesso, o que em muitos casos inviabiliza a oferta do serviço.

É aí que entram os modens sem fio para a conexão à internet por meio das redes de telefonia móvel. Os dispositivos funcionam em todos os locais onde o celular pega. Nas grandes cidades, onde está disponível a tecnologia de terceira geração (3G), é possível se conectar em alta velocidade. Por esses motivos, esse tipo de oferta de serviço tornou-se uma opção para quem mora na periferia e em áreas rurais.

Na Vivo, os consumidores das classes C e D já representavam 45% do total de assinantes de modens de internet em janeiro deste ano. Agora, essa proporção certamente é maior, afirma o vice-presidente de marketing e operação da companhia, Hugo Janeba. "Esses clientes não querem só voz, querem também internet. Eles percebem o valor dessa informação que está na rede", diz o executivo.

Quem não tem internet fixa ou móvel encontra soluções alternativas. A principal saída é o uso das lan houses, que se disseminaram nas favelas. Segundo levantamento do Comitê Gestor da Internet (CGI), elas são o principal meio de acesso à web no país e representam a opção utilizada por 48% dos internautas brasileiros. Entre os consumidores de classe D e E que navegam na rede, essa proporção chega a 79%.

Na favela do Jaguaré não faltam casos de quem usa o computador em casa, mas recorre a lan houses, vizinhos ou ao Centro Cultural e Profissionalizante Santa Cruz quando precisa acessar informações na internet.

No centro, mantido por empresas e ex-alunos do colégio Santa Cruz, dois computadores ficam disponíveis na biblioteca para o uso da comunidade. Além disso, há uma sala de aula com diversas máquinas. Os equipamentos são usados nos cursos de informática, que já formaram 538 alunos e têm cinco turmas diárias. (TM e AB