Título: Produtores de cereais da UE querem subsídio para aliviar baixa de preços
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2009, Agronegocios, p. B12

Depois dos produtores de leite, agora são os produtores de cereais que estão pedindo na Europa que os governos intervenham e comprem parte da produção, para compensar as graves dificuldades provocadas pela queda de preços.

O Comitê de Organizações Agrárias e de Cooperativas Europeias (Copa-Cogeca) alega que a situação difícil é consequência de duas boas safras mundiais, que reconstituíram os estoques globais.

Apesar do alto custo dos insumos utilizados no cultivo, a colheita de cereais nos 27 países da União Europeia (UE) foi de novo excelente, alcançando 285 milhões de toneladas.

Com isso, os preços no bloco europeu desmoronaram. Já os custos de produção aumentam rapidamente, o acesso ao crédito continua difícil e a demanda de alimentos por animais persiste baixo.

Com a abundância de cereais, o preço do pacote de 22 quilos de trigo caiu para US$ 4,4 no mercado futuro de Chicago, um terço do nivel de fevereiro de 2008 quando chegou a US$ 12,80.

Os estoques mundiais pesam sobre a cotação. Depois de terem caído a 118 milhões de toneladas na temporada 2007/08, se recuperaram com 163 milhões de toneladas na última colheita e para 2009/10 a expectativa é de alcançar 185 milhões de toneladas.

Mas analistas de mercado europeus alegam que a situação pode mudar repentinamente. Mais da metade dos estoques pertence a países da Ásia, como a China e Índia. E a baixa de preços pode diminuir o interesse de agricultores em continuar cultivando trigo.

Nesse cenário, a Copa-Cogeca pressiona a Comissão Europeia a comprar para ampliar os estoques e assegurar a rentabilidade da produção. Alega que o nível dos estoques mundiais, mesmo se está em alta, ainda é "relativamente fraco". E toda perda de produção este ano poderia causar uma forte alta dos preços de cereais com "efeito desastroso" sobre os preços de alimentos tanto para animais como para consumidores.

Com relação ao setor lácteo, os dirigentes agrícolas da UE exigem dos políticos em Bruxelas que adotem "ações radicais" para superar a crise. Eles reclamam que a situação atual não é mais viável. O preço do leite caiu 30% em um ano e os produtores dizem que vão perder até ¿ 14 bilhões até o fim do ano se nada for feito.

Alegam também que a renda agrícola da UE já baixou 3,7% no ano passado, e o "abandono maciço" do setor pelos agricultores ocorreria num "ritmo inquietante". Assim, Copa-Cogeca quer que os governos voltem a dar subsídios para a exportação de lácteos, como uma das primeiras medidas. Propõe também a utilização do leite na alimentação animal e subsídios para transformação em manteiga.

Copa-Cogeca diz que a crise do leite terá impacto nos setores europeus de cereais e oleaginosas, atraves de redução da demanda de alimentos para animais.