Título: A maior do mundo
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2010, Economia, p. 16

Capitalização da estatal pode chegar a R$ 150 bilhões. Minoritário precisa desembolsar valor muito elevado

O gigantismo da operação de capitalização da Petrobras assustou o mercado. Se os números forem confirmados, promete ser a maior já feita no mundo e movimentar aproximadamente R$ 150 bilhões, um terço do atual valor da empresa em bolsa de valores. Todos admitem que se trata de um negócio importante porque a Petrobras tem urgência em aumentar o capital, para ampliar a capacidade de endividamento e conseguir financiamento a juros mais baixos. Oprocesso deverá estar concluído até o fim de julho.

Mas ainda há dúvidas quanto ao tamanho exato da operação e quanto ao preço a ser apurado pelo barril de petróleo que vai integrar o processo de cessão onerosa. Suspeita-se também de que a capitalização da Petrobras poderá atrair potenciais investidores e atrapalhar a oferta de ações do Banco do Brasil, cujo preço será fixado no próximo dia 29.

No modelo de cessão onerosa, o governo cederá à Petrobras um valor equivalente a cinco bilhões de barris para que a estatal faça a exploração da área do pré-sal na Bacia de Campos. A estimativa do economista chefe da Corretora Prosper, Eduardo Velho, é de que o preço do barril deve se situar entre US$ 5 a US$ 6, ou seja, neste caso, o equivalente a US$ 30 bilhões.

Acionistas Velho acredita que 50% deste valor, ou seja, US$ 15 bilhões, devem entrar por intermédio de investidores estrangeiros, quando a empresa concluir a oferta pública de ações. ¿Isso pode puxar para cima o preço do dólar e acabar obrigando o Banco Central a fazer intervenções mais fortes de compra¿, disse o economista da Prosper.

Outra pergunta que tem sido constante é quanto o que vai acontecer com os acionistas minoritários da Petrobras, que compraram ações antes da descoberta do pré-sal. O consultor financeiro Ricardo Almeida acha que a disputa será desigual entre estes e o governo. Já que a União entrará com barris de petróleo e não com dinheiro, eles terão que fazer um imenso esforço financeiro e provavelmente não poderão disputar no mesmo nível.

¿O investimento é muito grande, eles não poderão manter sua participação, e quem apostou antes no papel da companhia e financiou o pré-sal vai ficar com lucro menor. O governo está lesando o acionista¿, disse Almeida. Para ele, os investidores começam a ter dúvidas se o governo vai agir da mesma forma com outras empresas e mudar a regra no meio do jogo. ¿Antes, era só o risco de mercado, agora apareceu também o risco de regulação.¿

Passo a passo

» O reforço de capital da petrolífera deverá movimentar aproximadamente R$ 150 bilhões. Mas o valor final dependerá do novo plano de investimentos da empresa de 2010 a 2014.

» O Senado aprovou, na madrugada de quinta-feira, o projeto que avaliza a capitalização da Petrobras em um novo regime exploratório no país, batizado de cessão onerosa.

» O objetivo é aumentar o capital de maior estatal do país para ampliar a sua capacidade de endividamento a juros mais baixos e garantir a execução de projetos que podem passar de US$ 200 bilhões.

» O projeto ainda será submetido ao Conselho Nacional de Política Energética e ao presidente Lula. A expectativa é de que, até agosto, o processo esteja concluído.

» Pelo modelo aprovado, o governo emitirá títulos da dívida pública em um valor equivalente a 5 bilhões de barris da área do pré-sal e da Bacia de Campos para subscrever as ações a que tem direito e, assim, manter o controle acionário da companhia.

» Os barris serão incorporados ao patrimônio da estatal que, em troca, terá de pagar pelos direitos de exploração. O preço dos barris ainda não está definido e deverá passar por duas avaliações: da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e de uma empresa contratada pela Petrobras.

» Quando o preço estiver definido, será feito o registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para a oferta pública de ações.

» O Banco do Brasil será o coordenador da oferta das ações da Petrobras no varejo. E os coordenadores globais são Bank of America Merrill Lynch, Bradesco BBI, Citi, Itaú BBA, Morgan Stanley e Santander.

» Os detalhes do processo de capitalização deverão ser aprovados em reunião de diretoria da estatal no próximo dia 17 de junho. No dia seguinte, será a vez de o Conselho de Administração da companhia dar o aval à operação. Em 22 de junho, o processo será submetido à Assembleia de Acionistas. O prazo final para a conclusão do processo é 31 de julho.