Título: FMI insiste em alta da moeda chinesa
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2009, Finanças, p. C6

O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou ontem que a recuperação da economia mundial vai depender de um realinhamento das taxas de câmbio praticadas atualmente e insistiu para que a China e outros países asiáticos deixem suas moedas se valorizar em relação ao dólar.

"O reequilíbrio global exigirá várias medidas e vários ajustes", disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, numa entrevista em que discutiu as novas projeções econômicas do Fundo. "É muito difícil imaginar que ele ocorrerá sem uma apreciação das moedas asiáticas."

O Fundo acredita que a China será obrigada nos próximos anos a modificar o modelo exportador que deu impulso ao seu desenvolvimento até agora e tomar medidas para se adaptar ao novo ambiente criado pela crise, em que o consumo dos países ricos que importam seus produtos tende a diminuir.

O modelo exportador fez a China acumular nos últimos anos superávits comerciais exuberantes e gerou desequilíbrios que contribuíram para fomentar a crise atual, alimentando fluxos de capital externo que financiaram a explosão do endividamento nos Estados Unidos e em outros países ricos.

Na avaliação do FMI, países como a China deveriam usar as reservas gigantescas que acumularam nos últimos anos para promover investimentos e estimular o consumo doméstico. Os EUA teriam que fazer o caminho inverso, aumentando as exportações para compensar a queda no consumo interno.

Para que isso funcione, será preciso realinhar as taxas de câmbio em vigor, com o dólar se desvalorizando e moedas como o yuan chinês se valorizando em relação à moeda americana. "Nem todos países podem ter o crescimento puxado por exportações", afirmou Blanchard. "Isso é simplesmente impossível fisicamente."

Parte do ajuste começou a ser feito naturalmente, como consequência da crise. Os EUA reduziram sua dependência de financiamento externo e as exportações chinesas diminuíram. Mas o FMI acredita que será preciso fazer mais para corrigir os desequilíbrios da economia mundial.

A China sempre resistiu às pressões dos países ricos e de organizações como o Fundo para mudar seu modelo de desenvolvimento e adotar um regime cambial mais flexível, por causa do impacto que isso teria na economia chinesa e dos prejuízos que os setores exportadores poderiam sofrer.

Faz anos que o FMI bate nessa tecla sem que nada aconteça. Antes da crise, a instituição promoveu uma rodada de discussões que pôs na mesa autoridades dos EUA, da China, da União Europeia, do Japão e da Arábia Saudita. Todos concordaram em promover mudanças em suas políticas domésticas, mas o acordo caiu no esquecimento com a crise.

Para Blanchard, a devastação causada pela recessão e o esforço feito pelos líderes mundiais para coordenar a resposta à crise nos últimos meses criou condições para voltar a discutir o assunto. "O compromisso dos países e a necessidade de uma recuperação mais consistente me fazem crer que teremos uma maior chance de êxito agora", afirmou.

Na semana passada, os líderes do Grupo dos 20, onde têm assento os EUA, a China, o Brasil e outros países ricos e emergentes, criaram um novo mecanismo de consultas para discutir esses desequilíbrios. O FMI terá um papel central nesse processo, produzindo análises das políticas domésticas de cada integrante do grupo e sugerindo reformas.