Título: Para o Irã, Obama ¿errou¿
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2010, Mundo, p. 27

Mahmud Ahmadinejad acusa Estados Unidos de ¿hipocrisia¿ e reafirma que as sanções da ONU ¿não terão efeito¿

O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, fez críticas diretas ao colega americano, Barack Obama, em mais uma resposta dura às novas sanções impostas ao país pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em visita à China, que votou com os Estados Unidos mas continua sendo um dos principais parceiros comerciais da República Islâmica, Ahmadinejad garantiu que as novas punições não terão consequências práticas e reafirmou que o programa de enriquecimento de urânio seguirá em frente. ¿Obama cometeu um grave erro. Ele sabe que a resolução não terá efeito¿, afirmou à imprensa em Xangai, na Exposição Universal.

Para Teerã, a decisão tomada na mais alta instância da ONU(1) por 12 votos contra dois ¿ Brasil e Turquia ¿ torna cada vez mais distante a retomada do diálogo com as potências. O presidente iraniano acusou Washington de tentar proteger Israel. ¿Muito em breve, ele (Obama) se dará conta de que não fez uma boa escolha e bloqueou a via para estabelecer vínculos amistosos com o povo do Irã. Está claro que os Estados Unidos não são contra as bombas atômicas, porque existe na região o regime sionista (Israel) com bombas atômicas¿, apontou Ahmadinejad.

O envolvimento de Israel pode ser uma das consequências do congelamento do diálogo, de acordo com o doutor em ciência política e professor de relações internacionais da Universidade de Brasília Eduardo Viola. ¿Podemos ter um conflito armado. A tendência é Israel atacar o Irã. Os Estados Unidos não vão fazer isso, ao contrário, querem evitar que aconteça. Afinal, o próprio Ahmadinejad já disse que vai fazer com que Israel desapareça do mapa, então uma bomba atômica não é um bom negócio para eles¿, comenta o especialista.

Para evitar um novo conflito do Oriente Médio, é provável que a ONU e Barack Obama desenvolvam outras medidas para dar um freio no programa nuclear iraniano. ¿Com certeza, novas sanções devem surgir. Nenhum país que faz parte do conselho quer uma arma nuclear e, infelizmente, o Irã está caminhando nessa direção, mesmo depois do acordo com a Turquia e o Brasil¿, avalia Viola.

O presidente iraniano condenou o monopólio das grandes potências no campo das armas nucleares e disse que a ONU ¿intimida¿ os demais países quando tentam desenvolver a própria defesa. ¿Eles não deixam outros países utilizarem a energia nuclear, inclusive de forma pacífica. Alguns deles já utilizaram bombas destruidoras. Essas potências querem monopolizar a ciência e a tecnologia a fim de proteger seus interesses materiais¿, disse Ahmadinejad à imprensa chinesa.

A nova resolução também aprofunda as restrições à venda de armamentos pesados ao Irã. A Rússia, membro permanente do conselho, voltou a acenar com a possibilidade de congelar a exportação de modernos mísseis antiaéreos S-300 para o regime islâmico, uma transação que se arrasta há meses e já causa impaciência em Teerã. No dia seguinte à votação, uma fonte oficial havia mencionado essa opção, mas horas depois o chanceler Sergei Lavrov afirmou que o texto da ONU não impede a transferência dos S-300. Ontem, depois de reunir-se em Paris com o presidente Nicolas Sarkozy, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, falou em suspender o negócio.

1 - O Comandante gostou O patriarca do regime cubano, Fidel Castro, elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a diplomacia brasileira pelo voto contra as sanções ao Irã no Conselho de Segurança. Mais uma vez, o Comandante expressou sua opinião sobre o tema em sua série de artigo Reflexões do Companheiro Fidel, no jornal oficial Granma. Além de citar o companheiro brasileiro, ele também destacou a declaração de voto feita perante o conselho pela embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, ¿uma mulher forte, que já havia definido o tom correto sobre as razões pelas quais seu país se opõe às sanções¿. No texto, Fidel aproveitou para criticar o ataque de Israel à flotilha que levava ajuda humanitária ao território palestino da Faixa de Gaza ¿ nem a Copa do Mundo passou despercebida ao veterano líder cubano, substituído em 2007 pelo irmão Raúl. Para o ex-presidente, as grandes potências querem ¿aproveitar o enorme interesse na Copa para apaziguar a opinião pública internacional, indignada com a conduta criminosa das tropas israelenses de elite contra Gaza¿.