Título: Sudeste voltou a atrair migrantes em 2008
Autor: Maia , Samantha
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2009, Brasil, p. A5

Análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que o Sudeste voltou a ter poder de atração de migrantes de outras regiões em 2008. Os Estados do Sudeste apresentaram saldo migratório positivo de 129 mil pessoas em relação ao resto do país, o que significa mais gente entrando do que saindo, revertendo uma perda de 171 mil habitantes em 2007.

Ao mesmo tempo, os Estados do Nordeste expulsaram mais gente do que atraíram. O saldo em 2008 foi negativo em 153 mil pessoas, enquanto em 2007 a região tinha perdido 64,4 mil. Uma das hipóteses para essa mudança de comportamento do fluxo migratório, segundo o técnico do Ipea Herton Araújo, é de que o forte crescimento industrial que o país vivia no período anterior à crise econômica mundial voltou a tornar o Sudeste atrativo em relação ao emprego. "É uma mudança importante, considerando que desde 2001 São Paulo apresentava saldos negativos em relação ao resto do país", diz ele.

Segundo o levantamento do Ipea, apesar de São Paulo ter mantido um saldo negativo em 2008, de 19,6 mil pessoas, ele é bem menor que o de 2007 (menos 154 mil) e, em relação ao Nordeste, ele passa a ser positivo, em 19,7 mil. Em 2007, o fluxo de migrantes entre São Paulo e Nordeste tinha sido negativo em 36 mil pessoas. Apenas a Bahia perdeu 75 mil habitantes em 2008, dos quais 47 mil foram migrações para a região Sudeste, e 14,5 mil para São Paulo.

O perfil do migrante é o de uma pessoa em busca de melhoria de vida, mas a realidade nem sempre corresponde aos sonhos de quem aposta que encontrará melhores oportunidades longe de casa.

Na cabeça da menina de 15 anos que saiu da cidade de Presidente Dutra, Maranhão, a 300 km de São Luiz, São Paulo era um sonho, uma cidade linda e cheia de pessoas interessantes. Hoje, aos 24 anos, há nove morando no centro da capital paulista, Marcilene Barros Leão pensa diferente. "Vim atrás de trabalho e para terminar meus estudos. Mas eu acho que as pessoas aqui são muito sofridas, no centro há muita criança de rua, gente pedindo coisas", diz. Hoje ela planeja seu futuro na terra natal. A intenção é cursar uma faculdade de engenharia civil em São Paulo e depois buscar emprego na mineradora Vale, em São Luiz.

Quando chegou em São Paulo, Marcilene foi recebida pela irmã que já vivia no município há quatro anos. Arrumou emprego de vendedora no bairro do Bom Retiro e terminou o ensino fundamental. No Maranhão, trabalhava desde os 13 anos, e a diferença de salário era algo que lhe chamava atenção quando pensava em mudar para São Paulo. "No Maranhão, vendedora ganhava uma salário mínimo, menos de R$ 200 reais na época, enquanto em São Paulo o piso já era mais de R$ 300", diz.

Como vendedora no Bom Retiro, ela conseguia até R$ 2,3 mil por mês, contando as comissões. "O local vendia por atacado, então cada compra rendia uma boa comissão", conta. Há dois meses, porém, a loja onde Marcilene trabalhava fechou e ela está sem emprego. Ontem ela estava no Centro de Atendimento ao Trabalhador, no centro da capital, buscando uma vaga, mas diz que não gosta de trabalhar como vendedora e que sente saudades da sua terra. "É uma cidade turística, bonita, e hoje ela está mais desenvolvida."

Pela sua experiência de vida em São Paulo, Marcilene diz que não aconselharia outras pessoas a virem tentar a vida aqui. "As coisas melhoraram no Maranhão, há mais empresas instaladas, mais empregos, evoluiu bastante."

O mito da cidade das oportunidades também atraiu recentemente a São Paulo o jovem Marcos Rogério Naia, 22 anos, natural de Maringá (PR). Ele trabalhava como pintor e a expectativa de obter um emprego em obras na capital paulista, onde o salário é cerca de 40% maior, o fez deixar sua casa há dois meses com apenas três malas e pouco dinheiro no bolso.

Sem recursos para fazer a viagem direta, fez uma peregrinação fazendo bicos ou obtendo passagem de ônibus nos serviços de assistência social das prefeituras. Passou pelos municípios paulistas de Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Jabuticabal, Ribeirão Preto, Catanduva, Campinas, Araraquara, Monte Alto, Rio Claro, São Carlos, Santos, e finalmente São Paulo, onde está há duas semanas.

Chegando aqui conseguiu vaga num abrigo próximo à estação rodoviária do Tietê, mas a falta de residência fixa já o impediu de obter um emprego. "Eu vim com a intenção de ficar um ano, mas a questão da residência é uma grande dificuldade", diz.

Em suas andanças à procura de obras para se candidatar, conta que já se perdeu na cidade e que já foi roubado. "Três moleques levaram duas bolsas minhas com roupas, calçados", diz. O sonho de conseguir melhorar a vida começa a ser frustrado. Ontem, ele buscou ajuda na assistência social da Casa do Migrante, na estação rodoviária do Tietê. "Tenho vaga no abrigo até o fim do mês. Nesse tempo, ou eu consigo um emprego e fico aqui, ou eu consigo uma passagem e volto para Maringá." O preço da passagem é R$ 78.