Título: PMDB fecha com Lula acordo para 2010
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2009, Política, p. A7

A cúpula do PMDB deve fechar, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o acordo com o PT para as eleições presidenciais de 2010. O acerto prevê a indicação, pelo PMDB, do candidato a vice na chapa a ser encabeçada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e o estabelecimento de regras de convivência de disputa nos Estados onde não for possível o entendimento entre as duas siglas.

O presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, deve conversar hoje com Lula para marcar encontro do partido com ele, a ministra Dilma e a cúpula do PT para formalizar o pré-compromisso eleitoral de 2010.

O PMDB governista decidiu que o acordo deve ser feito diretamente com Lula, porque duvida que Dilma ou os atuais e futuros dirigentes do PT (a sigla renova o comando no próximo mês) tenham ascendência sobre os petistas nos Estados. "Ele é o cara", diz um dirigente do partido. "Fechado o acordo, ela (Dilma) passa a ter chance de se consolidar".

A cúpula do PMDB quer agendar a reunião com Lula já para a próxima semana, por entender que o encontro será uma sinalização importante para ajudar a pacificar a relação com o PT nos Estados em que há dificuldades para a composição.

Os pemedebistas devem dizer a Lula que a unidade do partido em torno de Dilma é impossível, mas que a maioria hoje está com a candidatura da ministra.

A definição imediata da aliança, segundo o PMDB, ajudará a compor situações regionais com vistas à maioria da convenção partidária em junho de 2010. Só a convenção tem poder para formalizar a coligação PT-PMDB.

Para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), os problemas nos Estados têm que estar resolvidos até o recesso do fim do ano. Depois, os parlamentares só retornam ao trabalho em março e será tarde para qualquer costura. Os problemas só estarão piores.

Segundo Henrique, há "inquietações estaduais" em relação à posição do partido na sucessão presidencial. O ex-governador paulista Orestes Quércia trabalha pelo apoio a Serra e um grupo defende candidatura própria. Ontem, a presidente interina da legenda, Iris de Araújo (GO), disse que muita gente a procura para defender essa tese.

A decisão do PMDB deu-se em jantar que reuniu os líderes das principais correntes do partido, na terça-feira. Temer recebeu o aval dos presentes para dizer a Lula que o PMDB "está pronto para estar concretamente no palanque de Dilma".

Quanto ao nome a ser indicado para vice, a decisão ficou em aberto. Temer é o mais citado por representar o partido institucionalmente. Sua presença na chapa "constrangeria" pemedebistas históricos, como Luiz Henrique (SC), se quiserem votar contra - o governador de Santa Catarina deve compor com o PSDB.

Sobre a hipótese de Lula escolher o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para vice de Dilma, o líder na Câmara diz: "O vice não é o Lula que escolhe. É o PMDB. O Lula quer Dilma. O vice, quem quer é o PMDB." Outro dirigente disse que Meirelles nada "agrega politicamente".

O PMDB quer um nome identificado com o partido. Meirelles é um recém-filiado. "O vice tem que representar o PMDB, tem que ter força política, nacional", diz Henrique Alves.

A reunião durou uma hora e 15 minutos. Rápida para os padrões do partido, principalmente pelo número de participantes: Michel Temer, Henrique Alves (o anfitrião), ministros Geddel Vieira (Integração Nacional), Reinhold Stephanes (Agricultura), José Temporão (Saúde) e Edison Lobão (Minas e Energia), o vice-presidente da Caixa Moreira Franco e os deputados Eunício Oliveira (CE), Iris Araújo (GO), Rodrigo Rocha Loures (PR), Rose de Freitas (ES), Eduardo Cunha (RJ), Jader Barbalho (PA) e Eliseu Padilha (RS). Do Senado, estavam José Sarney (AP), Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RO).

Todos aprovaram o pré-acordo. Padilha nada falou. O mais exaltado (contra o PT) era Geddel, decidido a disputar o governo. A situação da Bahia foi avaliada como "irreversível" em relação ao PT. O que Geddel quer (e o PMDB endossa) é tratamento igualitário. Ou Lula não vai à Bahia ou vai no palanque de ambos. Não pode gravar para o candidato do PT e não gravar também para a campanha de Geddel.

Jader fez um relato sobre a situação no Pará. Disse que a governadora Ana Júlia não cumpriu nenhum compromisso feito com o PMDB. Jader foi um dos primeiros a chamar a atenção da direção do partido para a necessidade de uma decisão rápida sobre a posição do partido na eleição: o partido, segundo argumentou, tem cinco ministro de Estados, e o apoio de Lula foi decisivo para a manutenção de Sarney na presidência no Senado.

"Devemos procurar Lula e dizer que o partido, por mais que não consiga a unanimidade, pode contribuir para a eleição de Dilma", diz Jader. "Não vai ser a dissidência minoritária que vai determinar [o que a maioria quer fazer]. A demora na definição não só vai agravar os problemas regionais, na opinião de Jader, como também expor o PMDB como um partido que apenas se serve do governo.

Fechado o acordo, o PMDB propõe que Dilma também mude o patamar da campanha: deixar o gabinete e os ambientes fechados, ir para as ruas e participar de inaugurações de obras, como propõe o líder do governo no Senado, Romero Jucá.