Título: Comissão aprova Trezza para direção da Abin
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2009, Política, p. A6

A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou, ontem, a indicação de Wilson Roberto Trezza para o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Depois de ser sabatinado pelos senadores da comissão, o diretor interino foi aprovado por 14 votos a um. A indicação, feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deverá ser votada pelo plenário do Senado na próxima semana.

Trezza exerce o cargo de diretor-geral da Abin interinamente há pouco mais de um ano, em substituição a Paulo Lacerda. Na sabatina que durou quase cinco horas, não houve constrangimentos ao diretor interino. A única menção ao vínculo de Trezza com a Brasil Telecom, então comandada por Daniel Dantas, foi feita pelo próprio interino. Funcionário de carreira da Abin desde 1981, Trezza pediu licença não remunerada da autarquia em 2002 para trabalhar como diretor de seguridade da Fundação CRT, atual Fundação BrTPrev, parte da Brasil Telecom. Em 2003, desvinculou-se da empresa. " Tivemos divergências no modelo de gestão", disse.

Lacerda, antecessor de Trezza, foi afastado do comando da Abin após denúncias de que autoridades dos três Poderes teriam sido alvo de escutas telefônicas ilegais durante a Operação Satiagraha da Polícia Federal, que teve como alvo Daniel Dantas. "É melhor nem perguntar sobre essa relação", desconversou João Pedro (PT-AM), quando questionado sobre a falta de interesse dos parlamentares sobre o currículo de Trezza e um suposto vínculo com Dantas.

As polêmicas envolvendo a Abin durante a Operação Satiagraha, como a participação em grampos ilegais, não geraram desconforto a Trezza durante a sabatina. O interino ocupava um dos três cargos-chave na direção da agência quando Lacerda era o diretor-geral. O interino disse que autorizou cerca de 80 funcionários da autarquia a participar da operação da Polícia Federal e que, como secretário de planejamento, foi o responsável pela transferência dos agentes para a ação da PF e acompanhava a alocação para a operação. "Mas não acompanhava o cotidiano da operação", disse.

Em nenhum momento Trezza foi questionado sobre o fato de ocupar uma função estratégica no momento em que a Abin passou por uma das maiores crises da autarquia. Os parlamentares evitaram pressionar o interino sobre a atuação da Abin durante a gestão de Lacerda e ele desconversou toda vez que foi questionado sobre ações de seu antecessor. A única reclamação veio de Heráclito Fortes (DEM-PI), um dos grampeados de forma irregular, que chamou agentes da Abin de "arapongas". "Fico chateado quando chamam os profisionais de ´arapongas´. É uma visão equivocada", rebateu Trezza. "Agentes da Abin que foram deslocados para a operação da PF se depararam com diálogos gravados de parlamentares. A Abin não é responsável pelos grampos e não tem competência legal para isso", disse.

Um dos focos dos senadores foi se a Abin estava acompanhando as ações do MST. O senador Romeu Tuma (PTB-SP) questionou se a agência sabia que integrantes do movimento social destruiriam uma fazenda da Cutrale em São Paulo, na semana passada. "Ninguém sabia que isso iria acontecer", disse.