Título: Aval de Dilma coloca Coutinho no páreo com Tombini para chefiar BC
Autor: Safatle , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2009, Finanças, p. C2

O processo sucessório no Banco Central, com a previsão de saída de Henrique Meirelles do comando da instituição em março, ainda é repleto de incertezas. Meirelles colocou, com grande antecedência, o nome de Alexandre Tombini, diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro, com seu provável sucessor. Mas há uma forte e recente movimentação dos aliados da candidatura da ministra Dilma Roussef à presidência da República, em torno do nome de Luciano Coutinho, presidente do BNDES, para o BC. Não é a primeira vez que Coutinho aparece como uma possibilidade. Dilma tem grande admiração por ele, que foi seu professor na Unicamp.

Tombini, 45 anos, funcionário de carreira do BC, já ocupou duas diretorias do banco (de Assuntos Internacionais e de Estudos Especiais). Trabalhou como assessor sênior da diretoria executiva do Brasil no Fundo Monetário Internacional. Economista com Ph.D. Universidade de Illinois (Estados Unidos), montou o Departamento de Pesquisa do BC em 1998, encarregado de dar suporte ao regime de metas para a inflação.

O diretor do BC começou a ser conhecido e a ter a simpatia do presidente Luis Inácio Lula da Silva no ano passado, ao substituir Meirelles em reuniões de Lula com alguns de seus conselheiros (Luiz Gonzaga Belluzzo e o ex-ministro Antonio Delfim Netto). Quando o BC começou a pensar em subir os juros, no primeiro semestre de 2008, Lula convocou um desses encontros, que contou também com a presença de Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Coutinho.

Mantega queria aumentar os depósitos compulsórios ao invés dos juros. Lula quis ouvir a posição do BC. Depois que Tombini expôs as razões pelas quais não era possível fazer o aperto monetário pelo aumento do recolhimento compulsório, naquele momento. Diante da discordância, Mantega pediu a réplica. Lula, para evitar discussão, abortou a conversa. Mas, segundo relato de presentes à época, guardou boa impressão do diretor do BC.

Coutinho é visto como provável ministro da Fazenda num eventual governo de Dilma. Uma passagem pelo BC no momento da campanha eleitoral, e diante do risco de se ter que aumentar os juros em 2010, poderia ser uma garantia de tranquilidade, avaliam aliados da ministra. Tombini, se indicado, teria um mandato tampão até a posse do novo presidente.

Uma terceira possibilidade, que ninguém no governo descarta, é Meirelles desistir de postular um cargo eletivo e permanecer no Banco Central até o fim do governo Lula. Afinal, a situação do presidente do BC no PMDB de Goiás não é sossegada.

Em qualquer das hipóteses, há fontes no governo que garantem que haverá mudança na diretoria do BC até março.