Título: PMDB entrega hoje a Lula e ao PT condições para aliança em 2010
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2009, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúne hoje, em jantar, dirigentes do PMDB e do PT para formalização de um pré-compromisso de aliança na eleição presidencial de 2010. Além da vaga de vice-presidente na chapa da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), os pemedebistas querem participação efetiva na coordenação da campanha e na elaboração do programa de governo para o mandato 2011-2014.

"Esses três pontos são fundamentais", afirmou ontem o presidente nacional do PMDB licenciado, Michel Temer (SP), presidente da Câmara dos Deputados. Por enquanto, ele é o mais cotado na cúpula para ser o vice de Dilma, mas não haverá definição do nome agora. "Não existe nenhuma pressão, de nenhum dos lados, para se formalizar a chapa já nesta reunião. Quem cria um prazo, cria um problema político para si próprio", disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Do lado do PMDB, a expectativa é garantir hoje pelo menos três compromissos: integrar a chapa que concorrerá à Presidência da República, ter papel decisório na campanha e, como diz Temer, "presença ativa" na elaboração do programa. "Não queremos chegar depois." O PT já compôs um grupo de trabalho, coordenado pelo assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, para elaborar um programa de governo para Dilma.

Temer lembrou que o PMDB não teve participação na concepção programática da gestão Lula, porque passou a integrar o governo já no segundo mandato, em 2006. "Será a primeira vez em que o PMDB apoiará formalmente um candidato a presidente", ressaltou.

Feito o pré-compromisso hoje, como espera Temer, o trabalho da cúpula do PMDB será tentar conter a articulação de lideranças estaduais do partido a favor de apoiar a candidatura da oposição a presidente - e não Dilma. À frente desse movimento está o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, presidente do PMDB paulista, aliado do governador José Serra (PSDB), o tucano mais cotado para disputar o Palácio do Planalto.

Quércia chegou a viajar a Brasília para pedir que Temer adiasse as conversas com o governo com vistas à eleição de 2010. Estava acompanhado do senador Jarbas Vasconcelos (PE), também ligado a Serra, e do deputado Ibsen Pinheiro (RS). No Rio Grande do Sul, o partido ainda não definiu a aliança. O efeito do pedido de Quércia foi contrário: antecipou a negociação pelo pré-acordo.

"Temos que buscar a maior unidade possível. A totalidade é difícil. Os interesses regionais vão preponderar", avaliou Temer. Como ele mesmo lembrou, em 2010 não estará em vigor a regra da verticalização - que obrigava os partidos a repetirem nos Estados a coligação nacional. O que significa que, na eleição nacional, o PMDB poderá compor a chapa de Dilma e, nos Estados em que quiser, se coligar com o PSDB.

No entanto, é importante ajustar a relação do PMDB com o PT nos Estados, porque a participação na chapa de Dilma precisa ser aprovada em convenção nacional do partido, que só vai se realizar em junho de 2010. E há problemas entre os dois aliados em Estados com colégios eleitorais relevantes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, entre outros.

"A intenção é definir o cenário nacional e, com calma, ir cuidando dos detalhes estaduais. Tanto o PT quanto o PMDB sabem que as conversas estaduais têm um prazo mais longo para serem decididas", disse Berzoini. Temer concorda. "Com o pré-compromisso, estamos dando o primeiro passo. Depois, vamos trabalhar os Estados, para tentar fazer alianças com o PT ou, quando não der, evitar alianças com o outro bloco", disse.

O presidente do PMDB defende que os partidos aliados de Dilma formem um "bloco de apoio" à chapa PT-PMDB, para atuar na campanha em polarização ao bloco da oposição. "Seria extremamente útil se tivéssemos no país dois blocos, cada um apoiando uma candidatura. O eleitor ficaria entre dois blocos bem definidos. Seria quase uma espécie de reforma política sem lei", explicou.

Dilma, segundo Temer, seria candidata do bloco e não do PT. O que uniria as legendas, segundo ele, seria a "identidade programática". Pelo raciocínio defendido pelo dirigente pemedebista, todos os partidos do bloco de apoio à candidatura governista dividiriam as decisões da condução da campanha.

Além da formação do bloco, os pemedebistas também pretendem propor a Lula que ele se afaste da Presidência no ano que vem, por cerca de um mês, para se dedicar à campanha de Dilma. A ideia partiu do líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Segundo ele, o presidente deve percorrer o país com a ministra, para apresentá-la à população e, ao mesmo tempo, explicar as razões para se votar na continuidade do seu projeto.

Quércia afirmou ontem que ele e demais lideranças do partido favoráveis a uma aliança com Serra continuarão trabalhando para que a convenção não aprove a aliança com o PT. Ele acha que hoje os diretórios estaduais estão divididos e que, até a data da convenção, poderá crescer a tendência pró-Serra. "Essa decisão não é do partido. Temer está fazendo isso sem ouvir a Executiva Nacional ou o conselho político do partido. Hoje o quadro está indefinido. Não sabemos quem tem maioria", disse Quércia.