Título: Venezuela reduz compras e Colômbia busca alternativas
Autor: Moura , Marcos
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2009, Internacional, p. A13

O comércio bilateral entre Venezuela e Colômbia deve encolher este ano até 35%, e não apenas por causa dos efeitos da crise internacional. As diferenças políticas entre os presidentes dos dois países estão prejudicando os negócios e forçando empresários de ambos os lados a procurarem alternativas na América do Sul. Em meio às perdas com a desavença, os dois tentam ampliar laços com o Brasil.

No fim de julho, o venezuelano Hugo Chávez disse que as relações com a vizinha Colômbia - segundo maior parceiro comercial do país, depois dos EUA - seriam congeladas. O motivo: o acordo que o presidente Álvaro Uribe, fechou com Washington para que tropas americanas usem sete bases colombianas para combater o narcotráfico. Chávez viu nisso uma ameaça americana à região e passou a criticar abertamente o governo de Uribe. O acordo incomodou outros governos sul-americanos, entre eles o brasileiro. Mas foi a Venezuela quem deu a resposta mais dura: começou a impor uma série de barreiras não-tarifárias aos produtos colombianos.

"Não existe nenhum ato administrativo que explicite no que consiste o congelamento das relações, mas quase todos os produtos colombianos estão sendo afetados porque a Venezuela deixou de renovar permissões de qualidade e sanitárias", disse ao Valor o presidente executivo da Câmara de Integração Econômica Venezuelano-Colombiana, Luis Alberto Russian.

Segundo ele, carne bovina, eletrodomésticos, roupas, tecidos e calçados estão no topo de lista de itens colombianos afetados pelas restrições de Chávez.

O caso dos carros talvez seja o mais visível. Em 2007, segundo a câmara, a Venezuela importou 47 mil veículos colombianos. Em 2008 foram 15.000, pois a Venezuela buscou diminuir a fatia dos importados e estimular a produção local. Neste ano, Chávez planejava liberar uma cota de 10 mil carros colombianos. "Mas, com o congelamento das relações, não deram nenhuma licença para importações. Nenhum carro feito na Colômbia entrou este ano na Venezuela", disse Russian.

Os produtos venezuelanos com autorizações (sanitárias, de qualidade entre outras) ainda em vigor entram na Venezuela normalmente. Os problemas, segundo Russian, são as renovações.

O comércio bilateral movimentou US$ 5,87 bilhões em 2007 e US$ 7,28 bilhões em 2008. As exportações colombianas representaram mais 75%. Em 2009, por conta da crise internacional e das restrições de Chávez, o comércio deve encolher entre 20% e 35%, estima a câmara.

"Não há dúvidas que há mais espaço se abrindo para produtos brasileiros", diz José Francisco Marcondes Neto, diretor da Câmara Venezuela-Brasileira de Comércio e Indústria de São Paulo. "Já começaram as buscas por parte de venezuelanos por opções de fornecedores no Brasil, principalmente no setor de alimentos."

As exportações brasileiras para a Venezuela saltaram de US$ 1,46 bilhão em 2004 para US$ 5,15 bilhões em 2008. Mas - efeito da crise - até setembro o acumulado é de US$ 2,58 bilhões, 30% a menos que em 2008. "O Brasil poderá ampliar agora suas exportações de carros, auto-peças, carne e máquinas. Mas ganharia mais espaço e agilidade se tivesse galpões e rede de distribuição na região de fronteira", diz Fernando Portela, diretor da Câmara Venezuelana-Brasileira de Comércio em Caracas.

No meio do fogo venezuelano, a Colômbia também quer estar mais perto do Brasil. Ontem, o presidente Álvaro Uribe se reuniu em São Paulo com empresários e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para falar de comércio e investimentos.