Título: Dilma vai intensificar campanha no Sudeste
Autor: Lyra,Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2009, Política, p. A9

A campanha a presidente da República da chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, inicia uma nova etapa nesta semana . Vencida a fase das articulações políticas com os partidos aliados - ela se reúne amanhã com o PP e na quarta-feira com o PMDB -, o PT prepara-se para retomar a agenda de rua da candidata, interrompida após a descoberta do câncer no sistema linfático. As prioridades serão viagens ao Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo - os dois últimos governados pelo PSDB.

O comando de campanha confia na força da transferência de votos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste e no êxito da recente viagem da ministra junto com o presidente para visitar as obras de transposição do Rio São Francisco. Por isto, a região - que conta com outro grande colégio eleitoral, a Bahia - estará de fora desta etapa da campanha planejada pela equipe da candidata.

Dilma vai retomar o contato com os movimentos sociais, empresários e segmentos religiosos. No começo do ano, ela chegou a se reunir com alguns setores da sociedade, convocados pelos diretórios estaduais do PT, principalmente o paulista. Mas o diagnóstico da doença e a necessidade de tratamento médico forçou a interrupção da agenda política e administrativa da chefe da Casa Civil.

O período coincidiu com a estagnação de Dilma nas pesquisas de intenção de voto, o que obrigou o PT a rever as estimativas eleitorais. No início de 2009, a expectativa no partido era de que a candidata chegasse ao fim do ano com 30% de intenção de voto nas pesquisas. Agora, o PT trabalha com a possibilidade de que ela chegue aos 20% em junho do ano que vem, quando começa oficialmente a campanha.

Alguns personagens serão fundamentais nesta nova etapa da campanha. O secretário pessoal do presidente da República, Gilberto Carvalho, retomou os contatos de Dilma com a Igreja Católica, mas outros grupos religiosos também serão procurados, embora já tenham tido reuniões sucessivas com a ministra há poucas semanas, em São Paulo.

Presente nos encontros da ministra com os partidos, o deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) será fundamental no diálogo com os empresários, embora Dilma tenha um bom trânsito nesta área, fortalecido pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e pelo pré-sal. Outro que está em alta no staff político da campanha é o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que cuida da articulação de Dilma com prefeitos de diversas legendas da base aliada - em novembro, ela tem um encontro marcado com os prefeitos e vice-prefeitos do PT, previsto para acontecer em Guarulhos (SP).

O PT quer mostrar que Dilma tem habilidade política compatível com sua capacidade administrativa. Sua atuação à frente da Casa Civil - incluindo o PAC, o programa Minha Casa Minha Vida e o pré-sal - será utilizada à exaustão na campanha. Resta agora consolidar o papel de articuladora que começou a exercer nas conversas com os partidos aliados.

De acordo com um dos principais interlocutores de Dilma, essas conversas foram além do esperado. A chefe da Casa Civil encontrou-se com o PR, o PRB, o PCdoB, o PDT - todos indicando que devem apoiar a candidata em 2010. Espera-se que, na quarta-feira, seja selada a aliança formal e a composição da chapa oficial com o PMDB.

No grupo dos grandes aliados federais, só não foram procurados o PSB - que mantém a intenção de lançar a candidatura do deputado federal Ciro Gomes (CE) a presidente - e o PTB. A bancada parlamentar petebista quer apoiar Dilma, mas o presidente da legenda, Roberto Jefferson, defende o nome do pré-candidato do PSDB, o governador José Serra (SP). A tendência, na avaliação de petistas, é que o PTB não apoie ninguém formalmente.

A única divergência interna no PT é se Dilma será ou não a "grande estrela" do programa partidário, previsto para ir ao ar no fim deste ano. Articuladores próximos da ministra consideram fundamental a repetição da estratégia adotada pelo PSB em relação a Ciro Gomes. Outros aconselham prudência. "Estamos bem, não devemos arrumar complicações jurídicas para o nosso lado", ponderou um líder petista.