Título: Ministro herda nó da liberação
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2009, Política, p. A10

O novo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que tomará posse hoje à tarde, aproveitou a semana passada para apresentar-se aos parlamentares. Desconhecido e inexperiente na articulação do Executivo com o Legislativo, tarefa que agora será sua, Padilha foi ao Senado, durante a sabatina de seu antecessor, José Múcio Monteiro, indicado para o Tribunal de Contas da União. Aproveitou também para conversar com alguns deputados sobre a CPI Mista do MST, que está para ser instalada. Este é um dos seus problemas principais agora.

Padilha, que era interino no cargo, ligou para os líderes aliados para convidá-los à solenidade desta tarde. "Ele fez um excelente trabalho na subsecretaria de assuntos federativos, travando negociações com governadores e prefeitos. Mas é evidente que o Congressoé diferente", reconheceu o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Criado em fevereiro de 2004, o cargo sempre foi ocupado por políticos. Por lá já passaram Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Jaques Wagner (PT-BA), Tarso Genro (PT-RS), Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG) e José Múcio Monteiro (PTB-PE). "Eram articuladores mais "chão de fábrica", conheciam melhor a realidade dos deputados e senadores", disse Berzoini.

O governo tem mais dificuldades de relacionamento com o Senado do que com a Câmara. Por isto, justifica-se um começo de atuação do novo ministro da Articulação pelo Senado, onde até mesmo os governistas são reticentes à aproximação com o Planalto por intermédio de um assessor. Preferem falar diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas na Câmara, ao contrário do que se imaginava quando o governo começou a preparar a troca da pasta há muitos projetos de interesse do governo em tramitação.

Um ministro próximo ao presidente avalia que, com o início da campanha eleitoral, ficaria esvaziado o debate parlamentar. Mas não é isto o que vai acontecer. Os deputados estão analisando quatro propostas vitais para o governo - aqueles que definem o marco regulatório do pré-sal. Outra iniciativa que poderá ser mal recebida é o projeto, a ser enviado ao Congresso nas próximas semanas, para taxar as cadernetas de poupança.

O novo ministro não terá que carregar sozinho a tramitação dos projetos do pré-sal. As duas principais relatorias - fundo social e partilha - foram entregues a parlamentares experientes e da confiança do governo: Antônio Palocci (PT-SP) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Para um ministro com livre acesso a Lula, o pré-sal não demanda muito esforço do novo ministro. "Envolve o futuro do país e dá-se no atacado, não no varejo", disse.

Se do ponto de vista de tramitação de projetos Padilha contará com o apoio dos líderes aliados, ele terá que se desdobrar em relação à liberação de emendas parlamentares, o problema, este sim de varejo, que consome qualquer ministro da coordenação política do governo.

A reclamação de parlamentares contra o governo por não liberar as verbas das emendas ao orçamento quase provocou uma baixa no Palácio do Planalto, faltando pouco mais de um ano para terminar o governo: o subchefe de Assuntos Parlamentares, Marcos Lima - que negocia as emendas com os congressistas - quis entregar o cargo, reconhecendo que não tinha mais força política por não conseguir a liberação dos recursos. Com a sucessão no Ministério, decidiu ficar mais um pouco - apostava que, por ter um relacionamento mais estreito com o Parlamento, teria mais chances para ser o escolhido para o cargo de Múcio.

Lula consultou diversos líderes e resolveu nomear Padilha, que conta com o apoio de 80% da bancada petista. Lima, que está de licença médica, manteve os planos de estudar no exterior e adiou, para o início do próximo ano, a saída do governo.