Título: Dúvida é se países vão seguir as orientações
Autor: Balthazar . Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2009, Internacional, p. A13
Os líderes do G-20 anunciaram na sexta passada um novo esforço para coordenar suas políticas econômicas e corrigir desequilíbrios que contribuíram para fomentar a crise atual, mas a tinta no comunicado que resumiu a decisão ainda estava molhada quando integrantes do grupo já questionavam a sinceridade do compromisso.
Países ricos e endividados como os EUA reclamam da China porque ela reluta em mudar seu modelo de desenvolvimento, que estimula as exportações, provoca o acúmulo de gigantescos superávits comerciais e gera prejuízos para indústrias menos competitivas nos países avançados.
Mas o presidente chinês, Hu Jintao, deixou Pittsburgh sem vestir a carapuça. Num pronunciamento para os demais líderes do G-20 na sexta, ele disse que já deu "passos significativos" para estimular o consumo doméstico e conduzir a China para um modelo de crescimento mais equilibrado.
O premiê britânico, Gordon Brown, um dos principais defensores da criação de mecanismos que aperfeiçoem a coordenação entre os membros do G-20, deixou a reunião celebrando os resultados. Mas, quando perguntaram se algum dia o Reino Unido seguiria uma recomendação do grupo, ele deixou a provocação sem resposta.
E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que não se sente obrigado a cumprir nada do que for combinado. "Não haverá ingerência em nenhum país, muito menos constrangimento", declarou. "O fato de ter aprovado um documento que cria um instrumento de coordenação não fará com que nenhum país perca autonomia de definir suas políticas."
O G-20 decidiu criar um mecanismo que promete submeter as políticas domésticas de cada país do grupo à avaliação crítica dos demais membros. Segundo o comunicado distribuído sexta-feira, países que se distanciarem dos objetivos definidos pelo grupo poderão ser instados a se corrigir.
O mecanismo, que deve começar a funcionar em novembro, não estabelece nenhuma sanção para quem não andar na linha. Mas prevê que o Fundo Monetário Internacional (FMI) participará ativamente do monitoramento dos países do grupo, produzindo análises e sugerindo mudanças de políticas.
Em 2006, o próprio FMI tentou fazer algo parecido ao promover uma série de consultas entre os EUA, a China, a União Europeia, o Japão e a Arábia Saudita. Cada um concordou com uma série de políticas que seriam necessárias para conduzir a economia global a um modelo de crescimento mais saudável. Mas os resultados do exercício caíram no esquecimento com a eclosão da crise financeira.
Os líderes do G-20 acreditam que desta vez pode ser diferente. O comunicado do grupo inclui uma série de princípios que deveriam orientar políticas econômicas responsáveis e medidas que deveriam ser adotadas para reduzir as vulnerabilidades de economias como a dos EUA e a da China. Ninguém apontou o dedo para ninguém, mas todos entenderam o recado.
É cedo para saber se vai funcionar. Num discurso que pretende fazer hoje em Washington, e do qual sua assessoria antecipou alguns trechos ontem, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, dirá que o mecanismo criado pelo G-20 é um "bom começo", mas ele adverte que a ideia só terá futuro se for levada a sério pelos países do grupo. (RB)