Título: Vendas reagem e usinas já atingem 78,6% da capacidade de produção
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2009, Empresas, p. B7

O setor siderúrgico brasileiro começa a se aproximar da normalidade, depois da queda acentuada de produção ao longo de todo o ano. Segundo o vice-presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, os dados que serão divulgados hoje pela instituição mostram que houve um uso de 78,6% da capacidade instalada no mês de setembro, o que resulta em um acumulado de 59,3% ao longo dos primeiros nove meses do ano. De acordo com Lopes, dos 14 altos-fornos existentes no país, apenas dois continuam desligados. No auge da crise, seis foram paralisados. No mundo inteiro, excluindo a China, 78 dos 111 altos-fornos pararam.

"Nos sete primeiros meses de 2009, operamos com um uso abaixo de 50%. As medidas de incentivo tomadas pelo governo federal para aquecer o mercado interno e o próprio reaquecimento da economia permitiram que nos aproximássemos do patamar de 80%, que é o razoável para o nosso setor", afirmou Lopes. As duas medidas de maior impacto tomadas pelo governo federal foram a redução do IPI para o setor automotivo e para a produção dos eletrodomésticos de linha branca.

O executivo disse que o mercado externo, responsável pela escoamento de pelo menos 40% da produção brasileira de aço, continua sendo um gargalo. De acordo com Lopes, há uma ociosidade de cerca de 650 milhões de toneladas de aço, o equivalente a a pouco menos de vinte vezes a produção brasileira, no mercado internacional. O que faz com que os países com maior consumo per capita de aço reduzam a demanda.

A projeção mundial para 2009 indica uma queda no consumo de 8,6%. Caso a China seja excluída deste cômputo, a redução chega a 24,4%. No Brasil, o IABr prevê uma produção de 27,3 milhões de toneladas, ou 19,1% a menos do que no ano passado. "Desde o início da crise doze países tomaram medidas protecionistas, por isso nossa insistência em retirar os produtos siderúrgicos da lista de exceção da tarifa externa comum, que nos faz perder o poder negocial. Na hora da conturbação, temos a ingenuidade de estarmos sem proteção", disse Lopes.

O executivo mostrou-se conservador ao avaliar o impacto de eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 na demanda do setor. Segundo Lopes, na China os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, representaram um aumento de demanda de 3 milhões de toneladas de aço, um acréscimo insignificante diante do consumo de aço do País. "Programas especiais como esses não resolvem nosso problema. O consumo de aço per capita no Brasil está relativamente estável há 26 anos, em torno de 100 quilos por habitante/ano?", afirmou. Na Coreia do Sul, o consumo está em torno de 900 quilos. Na Espanha, em 300 quilos.