Título: Candidatura Tasso depende de Ciro
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2009, Política, p. A9

Apesar do entusiasmo dos tucanos do Ceará com uma suposta pré-candidatura do senador Tasso Jereissati ao governo do Estado, o papel do ex-governador e o rumo do PSDB nas eleições de 2010 continuam totalmente indefinidos. Tasso ainda resiste a concorrer a governador - cargo que já ocupou por três vezes - e aguarda a decisão do deputado Ciro Gomes (PSB-SP) em relação ao processo eleitoral para decidir sua situação.

A conexão entre as duas candidaturas, no entanto, não se deve a razões pessoais. Embora Tasso e Ciro tenham amizade e afinidade política local, o tucano afirma que em 2010 apoiará o candidato à Presidência da República do PSDB, ainda que o deputado concorra ao cargo. "Seja o governador José Serra (SP) ou o governador Aécio Neves (MG), o meu candidato será o do PSDB. E vou trabalhar para ele", afirma Tasso.

A influência de Ciro sobre a situação de Tasso é política. Mesmo tendo transferido seu domicílio eleitoral para São Paulo, o deputado é considerado o político mais popular do Ceará, Estado governado por seu irmão Cid Gomes (PSB). Sua candidatura à Presidência ou a governador de São Paulo é uma variável importante para a eleição no Estado.

Os dois irmãos articulavam com Tasso um acordo eleitoral produtivo para os dois lados: Cid manteria a aliança com o PT e o PMDB na disputa à reeleição, mas lançaria apenas um candidato a senador: o deputado Eunício Oliveira (PMDB). O PT ocuparia a vaga de vice-governador.

Esse arranjo facilitaria a reeleição de Tasso ao Senado, mesmo que o tucano não fizesse parte da chapa. E seria eleitoralmente útil para Cid. Tasso tem força política no Estado, principalmente no interior, e aparece praticamente empatado com Cid em pesquisas de intenção de voto para governador. O que está dificultando esse acordo é que o PT pressiona Cid para incluir o ministro José Pimentel (Previdência Social) como candidato ao Senado. Em 2011 serão abertas duas vagas por Estado.

Nesse quadro, a definição de Ciro pode ser decisiva. Se ele disputar a Presidência e o PT, como reação, lançar um candidato próprio a governador - fala-se na prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins -, Cid estará liberado até para formalizar uma aliança local com Tasso. Apesar da ambiguidade da situação, o tucano não lançaria candidato a governador e, como candidato a senador, montaria um palanque para ele e o presidenciável do seu partido. "Eu gostaria de fazer campanha para Tasso se reeleger senador, a bem do Ceará", afirmou Ciro. E fez questão de completar: "Isso, respeitando a justa decisão dele de votar no Serra."

Como não estará em vigor a regra da verticalização - que impediam os partidos de fazerem alianças nos Estados diferentes das firmadas no plano nacional - o acordo no Ceará seria possível. Ou, no mínimo, uma espécie de "aliança branca", sem formalização. Essa solução seria favorecida caso o candidato do PSDB a presidente fosse Aécio Neves, que mantém boa relação com Ciro, facilitando um acordo de não agressão.

Uma candidatura de Ciro a presidente desestimularia o lançamento de um tucano para a disputa ao governo do Estado porque fortaleceria muito a reeleição de Cid. Isso complicaria a situação de qualquer concorrente ao governo do Estado. Caso Ciro e Cid tenham o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a dificuldade será ainda maior.

Tasso termina seu mandato de senador em 2011. Por questões pessoais, prefere disputar novo mandato no Senado. Mas o PSDB está sem nomes para a disputa ao governo do Estado e, consequentemente, com problemas de palanque local para seu candidato a presidente.

O discurso de Tasso na eleição da nova direção do PSDB do Ceará, no domingo, em Fortaleza, foi interpretado como sinalização de que poderia concorrer ao governo. Ele disse estar "à disposição" do partido para fazer o "necessário" para recuperar o espaço dos tucanos no Estado.