Título: Crédito começa a voltar ao nível de antes da crise
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2009, Finanças, p. C2

A contratação de crédito bancário começa a voltar à normalidade, embora ainda em ritmo mais fraco do que antes de o Brasil ser atingido pela crise financeira internacional, mostram estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central.

Há sinais positivos também nas taxas de inadimplência, principal preocupação dos bancos, que parece ter superado a sua pior fase.

O volume de crédito bancário total cresceu 1,5% entre agosto e setembro, para R$ 1,347 trilhão, cifra equivalente a 45,7% do Produto Interno Bruto (PIB). No pior momento da crise, o crédito era puxado basicamente pelos empréstimos direcionados, como financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), crédito rural e empréstimos para a compra da casa própria.

O crédito direcionado continua a avançar com força (2% entre agosto e setembro), mas o crédito com recursos livres está em recuperação, com um avanço de 1,3% no período.

Os bancos públicos foram, na fase mais aguda da crise, os motores do mercado de crédito, e continuam tendo um papel central - suas carteiras avançaram 1,9%, sempre na comparação entre agosto e setembro. Os bancos privados nacionais também aceleram a contratação de crédito, com um avanço de 1,5%. Os bancos estrangeiros permanecem atrás, com um crescimento de apenas 0,9%.

O destaque, porém, foi a retomada do crédito às empresas, segmento que mais havia sido afetado na crise. O crédito livre contratado com empresas registrou um avanço de 2,4%. Nos nove meses anteriores, esse segmento havia crescido apenas 5,07%.

"Estamos caminhando para a normalização do crédito às empresas", afirma o chefe-adjunto do departamento econômico do BC, Túlio Maciel. "Há oferta inclusive para pequenas e microempresas, não nos patamares de antes da crise, mas ainda assim existe uma recuperação."

Nos piores momentos da crise, as grandes empresas tiveram cortados o acesso ao crédito no mercado internacional e de capitais e, por isso, passaram a tomar recursos nos bancos.

Os bancos, por sua vez, cortaram as linhas de empréstimos às pequenas e microempresas. "As empresas tiveram dificuldades para rolar as suas dívidas, e isso levou ao aumento da inadimplência", afirma Maciel.

Isso, agora, começa a voltar ao normal. O índice agregado de inadimplência, que inclui os empréstimos livres vencidos há até 90 dias, recuou de 5,9% para 5,8% entre agosto e setembro. Foi a primeira queda desde que o brasil foi atingido pela crise, em setembro de 2008.

Nos últimos meses, a taxa de inadimplência nas operações de financiamento com pessoas físicas já vinha recuando. De setembro para agosto, caiu de 8,4% para 8,2%; em maio, havia chegado ao pico, de 8,6%.

A inadimplência nas operações com empresas, porém, continua a subir, passando de 3,9% para 4% entre agosto e setembro. "O crescimento foi tão pequeno que nossa leitura é que o pico da inadimplência já ficou para trás", afirma Maciel. No indicador mais amplo, que inclui empréstimos livres e crédito direcionado, a inadimplência ficou estável em 4% entre agosto e setembro.

No caso dos bancos públicos, que lideram o processo de expansão do crédito, recuou de 2,7% para 2,6%. Nos bancos privados, avançou de 5,6% para 5,7%; nos bancos privados, cresceu também de 5,6% e 5,7%. (AR)