Título: Lula foca em Minas para prestigiar o PMDB
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2009, Política, p. A10

Interessado em prestigiar o PMDB nos Estados para ter seu apoio nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que o jogo de forças em Minas Gerais tem que contemplar, nas eleições de 2010, o ministro Hélio Costa para o governo estadual, Patrus Ananias para o Senado e o ex-prefeito Fernando Pimentel para a Câmara dos Deputados. Esta seria a forma de fortalecer a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e acomodar as disputas entre PMDB e PT no segundo maior colégio eleitoral do país.

Hélio Costa lidera, neste momento, as pesquisas de intenção de voto em Minas, mas Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte pelo PT, gostaria de sair candidato ao governo. Costa, que ameaça dividir palanque com o governador Aécio Neves (PSDB) em 2010 caso o PT lance candidato, tem um bom diálogo com o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, mas enfrenta a concorrência de Pimentel. Em nome do projeto Dilma, o presidente Lula tem um plano para cada um desses atores.

Pimentel seria, em tese, o mais prejudicado por um acerto entre o PT e o PMDB em Minas. Lula não concorda com essa avaliação. Acha que o ex-prefeito tem assegurada a eleição para a Câmara e prestígio suficiente para presidir a Casa em 2011 ou 2013. Além disso, por ser muito próximo da ministra Dilma - os dois militaram juntos na clandestinidade, há 40 anos, no grupo terrorista VAR-Palmares -, Pimentel, na acepção do presidente, tem tudo para se tornar ministro de sua gestão na Presidência.

Este é um retrato de hoje, que pode mudar, mas a estratégia em curso para eleger Dilma em 2010 está vinculada a esse desenho. As soluções para Minas Gerais só se alteram se Aécio for o candidato a presidente pela oposição pois, neste caso, o desejo do presidente Lula é puxar Hélio Costa para ser vice de Dilma. A razão é simples: é fundamental ter Minas forte na candidatura governista.

Se o candidato da oposição for, no entanto, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), líder de todas as pesquisas eleitorais, os candidatos a vice-presidente cogitados por Lula são o presidente da Câmara, Michel Temer, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, recém-filiado ao PMDB. O presidente acha que os dois compõem com Dilma "uma boa fotografia" para disputar a Presidência, mas as vantagens e desvantagens de um e de outro começam a ser notadas.

Presidente de honra do PMDB, Temer daria à candidatura Dilma, nas palavras de um assessor direto de Lula, "um ar mais institucional". O deputado conhece bem o PMDB, pode levar o partido mais coeso para uma gestão Dilma, assegurando-lhe uma governabilidade mais forte. Temer, na avaliação de assessores de Lula, pode ter o apoio também do senador José Sarney (PMDB-AP), que estaria grato por sua postura durante a crise que o atingiu na presidência do Senado.

Meirelles, na visão de Lula, ajudaria a "modernizar" a chapa de Dilma. Sua presença no governo impediria que a gestão da futura presidente se pautasse apenas pelo desenvolvimentismo. "A tensão existente hoje no governo entre Ministério da Fazenda e Banco Central, e que Lula aprecia e até estimula, permaneceria num governo Dilma", comentou um ministro com trânsito no gabinete presidencial.

Meirelles, que tem o apoio do sistema financeiro, teria uma vantagem política adicional, na opinião de colaboradores do presidente Lula. Como entrou há pouco tempo no PMDB e não tem mandato, ele seria um candidato neutro dentro do partido, uma vez que não tem nenhuma ligação com os líderes regionais e nacionais da legenda.

A operação para filiar o presidente do Banco Central ao PMDB foi orquestrada pessoalmente por Lula. A seus assessores, o presidente diz que a decisão de escolha do candidato a vice é da ministra Dilma, que aprecia tanto o nome de Temer quanto o de Meirelles. Sabe-se, no entanto, que Dilma não tomará uma decisão sem consultar Lula.

Na cúpula do governo, o raciocínio dos articuladores políticos da sucessão é que Dilma tem que chegar a março com pelo 20% de preferência do eleitorado, mas não muito mais do que isso. Se ela tiver 30%, o governo acredita que Serra poderá desistir da disputa. "Ele não vai arriscar uma reeleição praticamente certa em São Paulo", diz um ministro.

As conversas no governo dão conta de que Lula prefere Serra a Aécio como adversário de Dilma em 2010 porque, se a disputa for com o governador de São Paulo, a eleição será pautada pela comparação entre os oito anos de mandato de Lula e os oito de Fernando Henrique Cardoso, supostamente favorável ao primeiro. O presidente acha que Aécio é "mais imprevisível" como candidato.

Lula continua preferindo ter um candidato só para sucedê-lo. Acredita que, com isso, a eleição será plebiscitária e Dilma vencerá no primeiro turno. O presidente aposta que, mesmo que não vença no primeiro turno, Dilma definirá o pleito no primeiro turno para ganhar a disputa no segundo. Nesse cenário, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), outro postulante da base governista à sucessão de Lula, partiria para a disputa do governo de São Paulo, onde ajudaria a infernizar a vida de José Serra, tirando o maior número possível de votos para Dilma.

Esse Lula, autor de todos os lances da estratégia e seu executor, vê que está chegando ao fim do ano pré-eleitoral em situação infinitamente mais favorável do que estava no mesmo período de 2005, quando foi atingido pelos escândalos do mensalão. Além de a economia estar em situação mais benigna, a oposição tenta produzir fatos contra o governo e não consegue - inflou a crise Sarney, mas o governo conseguiu se safar; inflou a crise Petrobras e, agora, o governo faz circular até uma piada do presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, para retratar o fracasso dessa estratégia. "A CPI da Petrobras está tão esvaziada que, hoje, a cobertura jornalística da comissão está limitada ao blog da Petrobras", disse Gabrielli a um ministro.