Título: IOF é assunto do dia no Brasil e na Ásia
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2009, Finanças, p. C3
Banqueiros e executivos do mercado financeiro continuaram a manifestar ontem seu descontentamento com a criação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% sobre os investimentos em renda fixa e renda variável do investidor estrangeiro no país, divulgado na segunda-feira. O tema acabou se impondo aos demais durante seminários em São Paulo e em conversas com investidores externos, inclusive na Ásia. Apesar das críticas, há consenso de que ainda é cedo para avaliar a dimensão real dos impactos da medida sobre o mercado de capitais brasileiro e sobre os investimentos externos a serem feitos no país.
Líderes do mundo das finanças, como Fábio Barbosa, presidente do Santander no Brasil e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), André Esteves, presidente da BTG Pactual, e Jean Marc Etlin, responsável pelo banco de investimento do Itaú BBA, fizeram comentários contrários ao IOF durante mesa redonda fechada à participação da imprensa no Brazil Summit 2009, promovido ontem pela revista "The Economist".
Segundo um dos participantes do evento, em São Paulo, André Esteves foi o mais incisivo. Disse que o IOF é um desestímulo ao mercado de capitais e ao investimento de longo prazo no país. Nem Esteves nem Barbosa quiseram falar com a imprensa sobre o tema. Etlin se limitou a repetir uma frase de efeito sobre o IOF: "Entendo o motivo, tenho dúvidas sobre sua eficácia e receio as consequências que a decisão possa ter sobre o mercado de capitais". Ele não quis dizer quais seriam os efeitos sobre as emissões públicas iniciais de ações nem se realmente poderia acontecer uma migração do mercado brasileiro de ações para o exterior. "Ainda é cedo para falar sobre a liquidez do mercado", afirmou Jean Marc Etlin.
"A medida cheira aos casuísmos do passado", disse Fernando Gentil, diretor-gerente da gestora de fundos de private equity Darby, do grupo Franklin Templeton Investments, que tem um total de US$ 450 bilhões sob gestão no mundo todo. Ele disse que, assim que tomou conhecimento da decisão, se lembrou das crises cambiais antigas e dos diversos pacotes econômicos que eram baixados repentinamente e mudavam todas as regras. "Para os investidores de private equity, que investem no capital das empresas e que são essencialmente mais de longo prazo, a manutenção das regras do jogo sempre foi fundamental", afirmou Gentil.
Ele disse não ter claro como fica o IOF para estrangeiros no caso dos Fundos de Investimento em Participação (FIP), a forma como se dá o private equity no Brasil. Mas defendeu que o IOF maior deveria vir acompanhado de reformas que promovessem o aumento da competitividade da empresa brasileira no exterior, como a reforma fiscal e trabalhista, por exemplo.
Um diretor de asset de banco estrangeiro disse que passou a noite conversando sobre o IOF com diversos investidores asiáticos que aplicam recursos em renda fixa e variável em fundos no Brasil. Segundo ele, com a mudança de regras esses investidores estão reavaliando essas aplicações. Para ele, o grande risco é de criação de dois tipos de mercado de câmbio, pois os investidores poderão buscar formas alternativas para escapar do imposto.
Um presidente de banco estrangeiro no Brasil que estava assistindo ao Brasil Summit 2009 disse temer aumento na alíquota caso os 2% se mostrem mesmo inócuos.