Título: Déficit externo manterá trajetória de alta
Autor: Villaverde , João
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2009, Especial, p. A20
A recuperação econômica brasileira vem acompanhada de uma aceleração no déficit em transações correntes, impulsionado pelo grande fluxo de capital que chega do exterior e pela perspectiva de recuperação das importações. A oferta de dólares já valorizou o real em 25,3% desde o início do ano - quando valia R$ 2,33 -, dificultando a retomada da indústria exportadora. Com a intenção de diminuir esta apreciação, o governo instituiu nesta semana a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para os estrangeiros que aplicam em títulos e ações.
Para os economistas ouvidos pelo Valor, a taxação sobre o capital externo não é capaz de, sozinha, evitar o movimento de baixa da moeda nacional, uma vez que o país toma a dianteira mundial em atratividade de negócios e projetos. Mas os analistas divergem sobre os efeitos do câmbio e a ação do governo. Segundo Paulo Gala, economista da FGV-SP, o real está caminhando para um estágio em que a rentabilidade dos exportadores sofre mais que os ganhos auferidos com o barateamento das máquinas importadas. O IOF apenas "atenua esse processo", mas serve para indicar "que o governo não vai assistir passivamente à apreciação cambial". Para Marcio Garcia, professor da PUC-Rio, a sinalização do governo é "bastante negativa" e encarece o custo do dinheiro que as empresas na Bolsa de Valores tinham acesso.
O endividamento externo deve ser combatido com ajuste fiscal, que, segundo Gala, viria acompanhado de medidas "radicais" para evitar queda maior do real. Para Garcia, a "farra fiscal" é o grande gatilho para o déficit, mas de difícil conserto, já que muitos gastos foram contratados. As exportações, diz, podem "demorar", mas aumentarão conforme parceiros comerciais se recuperem da crise.
A seguir, os principais trechos das duas entrevistas.