Título: Indústria reassume posto de locomotiva
Autor: Gonçalves, Marcone
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2010, Economia, p. 13

Produção avança 14,6% entre janeiro e março frente a igual período de 2009. Mas, para a CNI, o ritmo de expansão das fábricas deve se acomodar nos próximos meses

Mais punida pelos efeitos da crise internacional no ano passado, a indústria virou o jogo e cresceu 4,2% frente ao quarto trimestre de 2009 e 14,6% ante os primeiros três meses do ano passado, conforme informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, independentemente de ter retornado ao posto de locomotiva do país nos três primeiros meses do ano, o setor industrial não deve manter, ao longo de 2010, o vigor que registrou até março, segundo avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para o economista-chefe da entidade, Flávio Castelo Branco, o primeiro trimestre não deve ser visto como parâmetro para os próximos meses. ¿A indústria não continuará crescendo no ritmo que se viu entre janeiro e março¿, assegurou. Mas isso não que dizer que haverá uma forte desacelaração. Se as contas dos analistas estiverem corretas, a produção deve fechar o ano com um salto próximo de 15%. Ou seja, o mercado verá uma acomodação em um patamar elevado, não um tombo.

Castelo Branco afirmou que, mesmo que houvesse uma paralisação total das fábricas daqui até o fim do ano, ainda assim a indústria encerraria 2010 com incremento de 8%, tamanha foi a força demonstrada nos últimos meses. É o que os especialistas chamam de carregamento estatístico. O economista da CNI ressaltou que, pela sondagem feita pela entidade, em abril, os indicadores industriais já devolveram parte do forte crescimento apresentado até março. Segundo a pesquisa, o faturamento da indústria caiu 4,9%, número acompanhado pelas horas trabalhadas (queda de 3,4%), que são consideradas o indicador mais próximo da produção.

O arrefecimento fica mais evidente, no entender da CNI, pelos indicadores de emprego e utilização da capacidade instalada (UCI), que continuaram crescendo em abril, mas em menor intensidade. O número de vagas nas fábricas avançou apenas 0,1%, enquanto a UCI passou de 82,2% para 83%.

Na avaliação da economista-chefe da Corretora Icap Brasil, Inês Filipa, apesar de expressivo, o crescimento do PIB de 2,7% no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses de 2009 não trouxe grande surpresa e mantém a dúvida de como a economia deve se comportar a partir do segundo trimestre do ano. ¿É preciso observar se, daqui para a frente, haverá de fato uma acomodação da atividade ou se veremos só um arrefecimento no ritmo de crescimento, influenciado por bases de comparação (de 2009) mais baixas¿, disse.

Importações A pressão que o crescimento do PIB pode representar sobre a inflação deve ser minimizada pela maturação de novos investimentos (tempo que as melhorias no parque produtivo ou em obras estruturais levam para entrar em operação). De acordo com o IBGE, a formação bruta de capital fixo (investimento) avançou 7,4% ante os últimos três meses do ano passado e 26% sobre o primeiro trimestre de 2009.

O consumo também está sendo abastecido com as importações, que deram um salto de 39,5% no primeiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2009. Na comparação com os últimos três meses do ano passado, as compras no exterior aumentaram 13,1%.

Agricultura em bom momento A agricultura registrou crescimento de 5,1% ante os três primeiros meses do ano passado. Para o governo, o setor continuará apresentando bom desempenho graças ao aumento dos investimentos e da maior oferta de crédito. Na avaliação dos especialistas, o agronegócio registrou desempenho inferior aos do setor de serviços (5,9%) e da indústria (14,6%) porque os preços das commodities, que são formados no mercado internacional, foram muito afetados pela crise global. Os maiores avanços foram detectados nas safras de soja, de algodão e de milho, com incrementos de 19,2%, 6,5% e 4%, respectivamente.

Construção registra recorde

Luciano Pires Vânia Cristino e Letícia Nobre

A construção civil teve o melhor início de ano de sua história. Impulsionado pelo aumento do crédito imobiliário e pela grande oferta de vagas de trabalho, o setor cresceu nada menos do que 14,9% no primeiro trimestre de 2010 frente ao mesmo período de 2009 ¿ recorde absoluto da série de pesquisas iniciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1995. Ainda que o índice esteja bem acima da taxa de crescimento do país, governo e empresas do ramo acreditam que é possível ver números superiores a esse nos próximos meses.

A trajetória ascendente da construção civil está fortemente ligada aos juros. Com a expectativa de que o Banco Central não elevará tanto a taxa Selic nos próximos meses, as previsões são de trimestres igualmente positivos até o fim de 2010. Portanto, para aproveitar os bons ventos da economia ¿ estimulados pelos incremento da renda do brasileiro e pelos programas de incentivo à construção de casas populares ¿, o segmento habitacional ampliou os projetos, ajudando a puxar a taxa de investimento para cima, ao intensificar as compras de máquinas e equipamentos.

Um exemplo do dinamismo do setor vem da construtora Apex Engenharia, especializada em projetos habitacionais voltados para as famílias com renda entre R$ 1,8 mil e R$ 2,3 mil e localizados nas cidades do Entorno de Brasília, principalmente Samambaia. O gerente comercial da empresa, João Paulo Santos Miranda, disse que, no ano passado, a empresa lançou um empreendimento durante o Feirão da Caixa Econômica Federal. Neste ano, foram três projetos, que já estão com 70% das unidades vendidas. ¿É só anunciar e vender¿, disse.

Vagas triplicam Miranda contou que a construtora teve que aumentar o número de empregados para dar conta da demanda, inclusive com a contratação de vários terceirizados. Ele também admitiu que, para muitas atividades, já existe falta de mão de obra especializada. ¿Não está nada fácil encontrar profissionais com formação adequada para o serviço¿, disse. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho mostram um crescimento contínuo do setor. De janeiro a abril de 2010, o saldo líquido na construção civil foi positivo em 166.112 novos postos de trabalho, resultado 3,8 vezes maior do que o computado no mesmo período do ano passado (43.677).

Os fabricantes de cimento estão animados com o desempenho da economia e alimentam uma boa expectativa para o surgimento de novos empreendimentos imobiliários. ¿O forte aumento do PIB (Produto Interno Bruto) se justifica por causa das carências que o Brasil tem. Como fez o dever de casa, consolidando a estabilidade macroeconômica e aumentando o poder de compra da população, o avanço da construção civil se tornou sustentável¿, disse o gerente nacional de Mercado da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Valter Frigieri. Para ele, o segmento está ¿muito colado¿ à conjuntura. Por isso, é inevitável que esteja aquecido agora.

Na avaliação da gerente de marketing da Votorantim Cimentos, Julie Ann Gueddes, o crescimento da construção civil vai continuar ¿firme¿. ¿O aumento da oferta de crédito provocou um maior interesse e mais segurança para investir em imóveis por parte da população¿, afirmou.

O número 14,9 % Incremento do setor nos primeiros trimestres de 2010 ante igual período de 2009