Título: Esvaziada pelo governo, CPI da Petrobras é abandonada pela oposição
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2009, Politica, p. A6
O governo pretende encerrar no próximo mês a CPI da Petrobras, instalada no Senado. A etapa de tomada dos depoimentos terminou ontem e no dia 10 de novembro o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, deverá prestar os últimos esclarecimentos sobre a estatal à comissão. A oposição desistiu de investir na CPI como forma de tentar atingir o governo federal e poderá deixar a comissão, sob a alegação de que os governistas impediram a investigação de supostas irregularidades cometidas pela empresa.
O esvaziamento da comissão, articulado pelo PT e PMDB, deu certo e irritou os senadores do PSDB e do DEM. "Não há mais sentido em continuar na CPI. Os governistas controlam a comissão e nos colocaram algemas", reclamou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do pedido de criação da comissão de inquérito. "O governo dominou completamente a CPI e "matou" a investigação", disse Tasso Jereissati (PSDB-CE). "Não deixam nem a transmissão das sessões pela televisão", completou Tasso.
Pouco mais de dois meses depois do início das investigações da CPI, senadores da oposição declararam ontem que poderão recuar ainda mais nas investigações. Ao tomarem conhecimento de que o gerente-executivo de Serviços da Área de Exploração e Produção da Petrobras, Erardo Gomes Barbosa, não participaria da sessão de ontem, contrariando o roteiro de trabalho aprovado, Álvaro Dias, Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA) retiraram-se da reunião. "Nós só podemos ouvir os dirigentes que a Petrobras deixa", reclamou Dias. "Isso aqui é uma encenação, não é uma CPI. Nos retiramos para denunciar a farsa", disse.
A Petrobras indicou outros dois diretores para defender a estatal de acusações de indícios de fraude nas licitações para a reforma de plataformas de exploração de petróleo, apontadas pela Operação Águas Profundas, da Polícia Federal, e de irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União nos contratos de construção de plataformas.
Não compareceram à CPI o diretor Guilherme Estrela, da área de Exploração e Produção da Petrobras; o ministro-chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, que também estava previsto no cronograma elaborado pelo relator da comissão; e outro diretor importante da empresa, Paulo Roberto de Costa.
A reunião de ontem, depois de três semanas sem encontros da comissão, repetiu o cenário observado nas últimas sessões da CPI: plenário vazio, atraso para o início dos depoimentos e ausência até mesmo de senadores da oposição. A reunião começou sem o presidente da CPI, João Pedro (PT-AM), e com apenas Álvaro Dias. Dos onze titulares da comissão, oito são do governo. Os dois suplentes da oposição, Heráclito Fortes (DEM-PI) e Tasso Jereissati, não foram os mais assíduos nas sessões.
A comissão foi instalada em 14 de julho, mas os trabalhos de investigação só começaram mesmo em meados de agosto. O relator, Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo, derrubou 68 requerimentos com pedidos de depoimentos e de informações da oposição.
O governo descarta a possibilidade de prorrogar a CPI . Para a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), todas as denúncias já foram investigadas "exaustivamente". O comando da CPI evita falar publicamente que encerrará a comissão em novembro. "Vamos combinar com o PSDB e DEM", disse João Pedro. A duração da CPI é de 180 dias e pode ser prorrogada pelo mesmo prazo.