Título: PP remete apoio em 2010 para convenção
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2009, Politica, p. A8

O encontro de ontem entre o PP e a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, serviria para o partido ouvir as opiniões da petista sobre economia, agronegócio, pré-sal e políticas para a micro e pequena empresa, segundo expectativa manifestada pelos líderes. Mas não se pretendia fechar uma aliança formal para 2010. De acordo com o presidente nacional do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), uma decisão deste porte precisa ser discutida pelos diretórios estaduais e ser aprovada na convenção nacional do partido, marcada para junho do ano que vem. "Política e pressa são palavras que não combinam. Preferimos agir com calma para evitar arrependimentos futuros", completou o senador.

Dornelles afirmou que o jantar de ontem seria importante como forma de aproximação. "Temos o maior respeito pela ministra, sabemos de sua competência e do papel que ela exerce no governo. Mas não podemos tomar uma decisão de cúpula sem ouvir as nossas bases. É preciso flexibilidade de todos para chegarmos a um acordo", defendeu o parlamentar fluminense.

O líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA), disse que encontros da bancada de deputados pepistas com ministros são frequentes. Já foram organizadas reuniões com o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, com o ministro dos Esportes, Orlando Silva e com o ministro das cidades - filiado ao PP - Márcio Fortes. Mas reconhece que uma conversa com Dilma tem um peso diferente. "Ela é extremamente competente, tem o mapa do Brasil na cabeça, sabe quais são as demandas e os problemas de cada Estado".

Para justificar a demora do PP em definir o apoio a Dilma, Negromonte lembrou uma frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dita durante uma reunião que definiu a entrada oficial do PP no governo. "Para se conseguir um voto é preciso saber conquistar, não apenas apertar a mão ou dar um sorriso". O líder do PP reconhece a existência de problemas regionais que podem dificultar um entendimento, mas acrescentou que tudo pode ser sanado com a escolha de articuladores políticos competentes. "O principal deles é o próprio Lula, o maior feiticeiro do mundo", elogiou Negromonte.

O parlamentar não acredita que as constantes reclamações da legenda sobre as dificuldades na liberação das emendas parlamentares possa causar embaraços para um apoio à chefe da Casa Civil. Ao longo de todo o governo o PP, ao lado de PR e PTB, criticou o contingenciamento das emendas parlamentares, queixando-se de receber um tratamento de segunda classe. "A ministra Dilma não tem absolutamente nada a ver com isto. Demandas sobre emendas parlamentares são tratadas exclusivamente com o ministro Alexandre Padilha (coordenação política)", ressaltou Negromonte.

O vice-líder do governo na Câmara Ricardo Barros (PP-PR) acha prematura uma sinalização de aliança neste momento. Ele próprio resistiu, em um primeiro momento, à entrada do PP no governo Lula, por ter sido vice-líder do governo Fernando Henrique na Comissão Mista de Orçamento. "Aprovarmos uma aliança agora - ou pelo menos sinalizarmos este interesse - significaria impedir que outros companheiros que pensam diferente possam se manifestar", explicou Barros.

Pré-candidato do PP ao governo de São Paulo, o deputado Celso Russomano não pôde ir ao jantar. Justificou que tinha uma palestra pré-agendada, que o encontro de Dilma com o partido tinha sido marcado anteriormente para outra data e, posteriormente remarcado. "Nem iniciamos as nossas conversas estaduais. Estabelecer uma aliança federal neste momento seria muito prematuro, é muito cedo".

O PP era o último grande partido da base aliada que faltava reunir-se formalmente com a ministra Dilma. O PT ainda deve organizar uma conversa com o PTB, mas exclusivamente com a bancada. O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, defende uma aliança com o PSDB.