Título: PT articula Gilberto Carvalho para lugar de Dilma sob resistência de Lula
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2009, Politica, p. A8

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, só deixará o cargo para dedicar-se oficialmente à campanha eleitoral como candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no limite do prazo de desincompatibilização. Apesar das pressões do PT para que Dilma fique só com a campanha a partir de fevereiro, o presidente e a própria ministra preferem cumprir o prazo de abril. Lula tem certeza de que Dilma terá melhor exposição ficando no cargo e viajando a seu lado para visitar e inaugurar obras.

Grupos do PT, porém, intensificaram a articulação nos últimos dias para que o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, seja escolhido logo como sucessor de Dilma Rousseff na Casa Civil, antes que o cargo comece a ser disputado. Para os petistas, o cargo deve ser ocupado por alguém com cacife político suficiente para manter a tradição da Pasta - antes de Dilma, o titular do ministério foi José Dirceu, ex-presidente do PT e coordenador da campanha de Lula em 2002. Além do respeito partidário, Gilberto teria o respaldo incondicional de Lula, por ser homem de confiança do presidente.

No Planalto, contudo, informa-se que o nome mais forte para substituir Dilma continua sendo a da subchefe de articulação e monitoramento da Casa Civil, Miriam Belchior.

Para petistas com bom trânsito no governo, a experiência acumulada por Gilberto ao longo dos últimos sete anos o credencia como principal nome para a Casa Civil, Pasta que centraliza as principais decisões de governo. O chefe do gabinete pessoal do presidente Lula tem relacionamento amistoso com todos os ministros, é respeitado pela sua aproximação com o presidente e acompanha as principais ações e programas do Executivo.

Esta não é a primeira vez que o PT defende a indicação de Gilberto Carvalho para algum cargo além do exercido por ele atualmente. No primeiro semestre, a cúpula partidária insistiu para que ele concorresse a presidente do PT nas eleições marcadas para novembro deste ano. A alegação é de que ele representaria a coesão de forças necessárias para auxiliar na consolidação da candidatura Dilma.

Pessoas próximas ao presidente lembram que, a exemplo da insistência quanto à eleição para presidência do PT, a nomeação de Gilberto para a Casa Civil esbarra no mesmo problema: Lula resiste a abrir mão de um de seus principais auxiliares. "O nome dele já foi lembrado para assumir a Secretaria de Direitos Humanos e para a presidência do PT. Lula nunca concordou em abdicar da presença de Gilberto ao seu lado", garantiu um importante assessor do Planalto.

Para ele, a mudança faria mais sentido se a saída de Dilma provocasse outras baixas na Casa Civil, deixando a Pasta sem peças de reposição confiáveis. A primeira avaliação é que, além de Dilma, a única pessoa que tende a deixar o ministério é o secretário-executivo adjunto Giles Carraconde Azevedo - que deixaria o governo para trabalhar na campanha presidencial.

Outro obstáculo é o desejo do presidente de alterar o mínimo possível a composição de seu governo durante a fase final do mandato. As mudanças previstas já são grandes - a expectativa é que pelo menos 17 ministros se desincompatibilizem para concorrer a diversos cargos eletivos. Mas no caso específico da nomeação de Gilberto para a Casa Civil, o problema seria também qualitativo. "Quem ele nomearia para o lugar do Gilberto? Seriam duas peças estratégicas que precisariam ser movidas de uma vez. É muito mais fácil ele optar por uma solução caseira, dentro da própria estrutura da Casa Civil", completou um aliado de Lula.

No Executivo, o nome mais forte no momento é o de Miriam Belchior. Além de acompanhar diretamente o principal programa de infraestrutura da gestão Lula - o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - Miriam também recebe relatórios de outras atividades da Casa Civil, como os debates com os movimentos sociais e as negociações com governadores e prefeitos. Até o meio do ano, o nome mais forte era da atual secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Para um ministro que compõe a coordenação de governo, ela ainda tem chances, embora há quem defenda que o Planalto insista em sua nomeação para um tribunal, uma vaga no Superior Tribunal Militar (STM), por exemplo.

Apesar de todas estas alternativas, a avaliação no núcleo do governo é de que, no momento, é cedo para estas definições. O argumento é que Lula demora a tomar decisões desta natureza, principalmente se envolvem assessores próximos. Um exemplo citado foi a promoção do chefe do Cerimonial da Presidência, Paulo César de Oliveira Campos, para o cargo de embaixador brasileiro na Espanha. "Lula demorou quase dois anos para decidir pela transferência", disse um auxiliar do presidente. (PTL)