Título: Cana alivia baixa do valor da produção no campo paulista
Autor: Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2009, Agronegocios, p. B14

A cana-de-açúcar vai livrar São Paulo de amargar uma queda histórica no valor de sua produção agropecuária e florestal em 2009. Estimativa preliminar do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria da Agricultura do Estado, aponta que, no total, os 54 principais produtos cultivados em terras paulistas renderão R$ 40,654 bilhões este ano, 4,44% menos que em 2008. Mas isso porque a fatia da cana, carro-chefe do campo estadual, deverá chegar a R$ 15,530 bilhões, aumento de 10,08% na comparação.

"Se lembrarmos do pessimismo que dominava o mercado no fim do ano passado e que os preços de produtos como carnes e grãos recuaram em 2009, até que o resultado geral não é tão ruim. Há alguns pontos negativos, caso da queda do valor da produção da laranja, por exemplo, mas também há destaques positivos, como os avanços da batata e dos ovos", afirmou o secretário da Agricultura de São Paulo, João Sampaio, ao Valor.

Com as variações calculadas pelos pesquisadores do IEA Alfredo Tsunechiro, Paulo José Coelho, Denise Viani Caser, Carlos Roberto Ferreira Bueno, Eder Pinatti e Eduardo Pires Castanho Filho, a participação da cana no valor da produção paulista volta a aumentar consideravelmente. Segundo o balanço preliminar, a fatia chegará a 38,2%, ante 33,2% em 2008 e 36,18% em 2007. É uma concentração encarada com alguma preocupação por Sampaio pelos reflexos desastrosos em anos de mercado adverso.

Não é o caso de 2009, quando a produção nos canaviais do Estado deve aumentar 2,93% em relação ao ano passado, para 403,4 milhões de toneladas, e os preços médios, puxados pela boa fase do açúcar, devem subir quase 7%. É o segundo ano seguido de incremento dos resultados da cana em São Paulo. Em relação a 2007, quando a cultura perdeu espaço devido, em parte, à queda de preços do álcool, o valor da produção previsto para este ano é pouco mais de R$ 4 bilhões superior.

A pujança da cana paulista aparece com todas as suas cores quando o IEA lista as principais regiões produtoras do Estado - Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR), segundo a terminologia da secretaria - por valor da produção. É a cana que mantém Barretos como o principal desses EDRs, com valor da produção calculado em R$ 2,047 bilhões em 2009, mesmo nível de 2008. E é a cana o principal produto agrícola cultivado em nove dos dez principais EDRs paulistas. A honrosa exceção é Itapeva, que aparece na sétima posição e onde a "estrela" é o tomate para mesa.

Os resultados preliminares da pesquisa mostram que a carne bovina permanece como o segundo produto agropecuário mais importante de São Paulo. O valor da sua produção deverá atingir R$ 5,065 bilhões em 2009, 1,6% menos que no ano passado, mas sua participação no total deve passar de 12,1% para 12,46%. Entre as regiões produtoras, a primeira que aparece no rol do IEA que tem na carne bovina sua locomotiva é Presidente Prudente, na 15ª colocação no ranking.

Madeira de eucalipto aparece em terceiro lugar no ranking dos produtos, apesar de uma estimativa de queda de 18,38% neste ano, para R$ 2,702 bilhões. A carne de frango deverá render 5,05% mais e chegar a R$ 2,205 bilhões. A lista dos cinco primeiros chega ao fim com a laranja, sem dúvida, segundo o secretário Sampaio, o grande ponto negativo das estatísticas compiladas pelo IEA.

Com produção 19,81% maior que em 2008, mas preços médios 33,3% inferiores, a laranja destinada às indústrias de suco deverá fechar o ano com valor de R$ 2,002 bilhões, 20,09% menor. No caso da laranja para mesa, cujos preços e produção vão recuar, o valor projetado é de R$ 756,3 milhões, uma retração de 47,47%.

Com a demanda internacional por suco de laranja ainda retraída, o segmento atravessa uma das piores crises de sua história em São Paulo, que reúne o maior parque citrícola do planeta. O custo médio de produção passa de R$ 10 por caixa de 40,8 quilos, enquanto o preço da caixa industrial deve fechar 2009, em média, a R$ 6,73. "Ainda acho que, para os próximos anos, a situação da laranja é reversível", diz Sampaio.