Título: Marina marca posição na questão ambiental
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2009, Política, p. A9

O Brasil deveria assumir metas mais ambiciosas para conter a emissão de gases que contribuem com o aquecimento global e impor limites a indústrias poluidoras e a outros setores da economia, disse ontem a senadora Marina Silva (PV-AC), durante debate realizado em Washington, nos Estados Unidos.

Para ela, a iniciativa cumpriria dois objetivos, ampliando a pressão para que os países avançados assumam compromissos mais significativos com a redução de suas emissões e incentivando as empresas brasileiras a se antecipar às mudanças que deverão resultar dos esforços para combater o aquecimento global.

"Precisamos mudar a forma de fazer as coisas", disse Marina, num evento organizado pelo Wilson Center, um centro de estudos de Washington, e pelo Environmental Defense Fund, um grupo de ambientalistas. "Precisamos de uma nova atitude política e uma visão civilizatória completamente diferente".

Marina, que foi ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trocou o PT pelo PV e poderá se lançar candidata a presidente nas eleições do próximo ano, aproveitou o debate de ontem para salientar as diferenças que a afastam do pensamento predominante em Brasília hoje.

O governo Lula ainda não definiu a posição que levará em dezembro à conferência internacional sobre mudanças climáticas que a Organização das Nações Unidas (ONU) realizará em Copenhague, na Dinamarca. O Ministério do Meio Ambiente defende a adoção de metas como as propostas por Marina, mas o Itamaraty e outras áreas do governo são contra por causa dos custos que seriam impostos às empresas.

O Brasil tem apresentado como sua principal contribuição para as negociações internacionais o plano lançado pelo governo há um ano para conter o desmatamento na Amazônia. A meta do programa é reduzir em 80% o desmatamento na região nas próximas duas décadas, mas muitos especialistas duvidam que o governo conseguirá cumpri-la.

Marina planeja participar de eventos paralelos à conferência de Copenhague. Ela disse que sua viagem para Washington foi custeada pelo grupo ambientalista que organizou o evento de ontem. Marina participará hoje de outro debate sobre mudanças climáticas no Congresso dos EUA e ontem tentava agendar reuniões com senadores que lideram os debates sobre o tema.

Numa entrevista a jornalistas brasileiros antes do debate de ontem, Marina classificou como "ato de campanha" a recente caravana organizada pelo governo para visitar obras federais no Nordeste e criticou a participação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a escolhida pelo presidente Lula para ser a candidata do PT à sua sucessão.

Marina disse que a participação de Dilma na caravana caracteriza o uso político de recursos públicos. "Claro que caracteriza", afirmou. A senadora também criticou a saída encontrada por Dilma para reagir contra seus opositores, que acusou de tratá-la com preconceito pelo fato de ser mulher. "Há um incômodo legítimo da sociedade", disse Marina. "Não tem nada a ver com ser homem ou mulher."