Título: Crédito vai crescer, mas custo do dinheiro tem que baixar
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Fonte: Valor Econômico, 23/10/2009, Opinião, p. A14

Grandes bancos brasileiros anunciaram nas últimas semanas um reforço substancial do crédito nos próximos meses. Nada indica, porém, que o aumento da oferta de recursos será acompanhado pela queda no custo do dinheiro, questão que também é da maior importância para a expansão da economia e a saúde das empresas.

A expectativa de alta da taxa Selic no próximo ano está sustentando em níveis elevados os juros no mercado futuro, que servem de parâmetro para o custo do crédito. Pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central (BC) nesta semana mostrou que o mercado financeiro novamente aumentou a meta da taxa Selic esperada para 2010 para 10,50% ao ano. Há um mês, a taxa projetada era de 9,25%.

Uma corrente do mercado acredita que a Selic só vai subir depois das eleições, no fim de 2010. Por isso, para conter a inflação alimentada pelo previsto descolamento entre a oferta e a demanda, causado pela recuperação econômica, o Banco Central lançará mão da reconstrução da teia de compulsórios, parcialmente desmontada no auge da crise internacional. Foram liberados cerca de R$ 100 bilhões em compulsório para irrigar o mercado e evitar o esmagamento dos pequenos bancos. Mudanças no compulsório têm repercussão direta no custo do crédito.

Há poucos dias o Banco Central alterou as regras do compulsório sobre depósitos a prazo, indicando que esse caminho deverá ser trilhado. Antes, as instituições financeiras podiam abater do compulsório recolhido em espécie os ativos adquiridos de bancos com até R$ 7 bilhões de patrimônio; agora, o benefício abrange apenas as operações feitas com bancos com até R$ 2,5 bilhões de patrimônio.

A persistente estabilidade da inadimplência contribui também para desvanecer a expectativa de redução do custo do dinheiro. As operações em atraso acima de 90 dias estacionaram em 5,9% do crédito total em julho e agosto. O projeto de criação do cadastro positivo, que poderia quebrar esse impasse, está empacado no Congresso.

Por conta disso, o spread bancário resiste a ceder para níveis internacionais. O spread médio calculado pelo Banco Central era de 26,3 pontos percentuais em agosto, o mais alto desde setembro de 2008, quando a crise internacional estourou.

Enquanto isso, quatro dos cinco maiores bancos - Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal - lançaram mão de emissão de ações, vendas de bônus no mercado internacional e injeção do governo para amealhar um reforço no capital de nada menos que R$ 24 bilhões. Isso representa o aumento de 18% no patrimônio que essas instituições contabilizavam em junho.

Como o capital pode ser alavancado várias vezes, a expansão da oferta de crédito foi calculada em R$ 190 bilhões (Valor 16/10/2009), o que significa o aumento de um terço da carteira desses bancos em junho. O crescimento não será linear. Santander e Caixa vão ampliar as carteiras de crédito em cerca de 70%, enquanto o Banco do Brasil e o Bradesco, que já são maiores, em pouco mais de 10%. O Santander foi alavancado pela maior emissão de ações feita até agora neste ano, que reforçou seu capital em R$ 14 bilhões. A Caixa Federal receberá uma injeção de R$ 6 bilhões feita pelo seu acionista, o Tesouro. O BB e Bradesco captaram com emissões no exterior.

Está em estudo o sinal verde do governo para que bancos emitam debêntures, o que vai reforçar o caixa de outras instituições. Enquanto a autorização não sai, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda uma captação com esse mecanismo, por meio de sua subsidiária, a BNDESPar.

Em outra frente, o dinheiro promete chegar também às pequenas empresas depois que o BC reduziu pela metade as exigências de capital dos bancos nas concessões de crédito que tenham o respaldo do Fundo Garantidor de Operações (FGO), operado pelo Banco do Brasil. A expectativa é que os bancos poderão dobrar o volume de crédito com garantia emprestado às pequenas empresas.

A retomada do crédito é um sinal positivo para a economia após a freada do início do ano e reflete a expectativa de recuperação dos negócios. A pesquisa Focus sinaliza aumento de 4,8% do PIB em 2010. Mas o dinheiro tem que ficar mais barato.