Título: BC descarta acelerar as compras para conter apreciação do real
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2009, Finanças, p. C2

O Banco Central não deverá adotar uma atitude mais agressiva para desvalorizar o real, como defendem setores do governo preocupados com a perda de renda das empresas exportadoras. Primeiro, porque considera ineficaz, já que, na sua visão, mais intervenção estimularia simplesmente um fluxo maior de dólares ao país, sem alterar a cotação da moeda. Segundo, porque acha que, num regime de câmbio flutuante, são incompatíveis intervenções para tentar modificar a tendência do dólar.

Em agosto, o diretor de política monetária do BC, Mário Torós, explicou, em entrevista ao Valor porque mais intervenções no câmbio levam a mais entrada de dólares. A política, disse, é comprar apenas a sobra de dólares no mercado. Numa economia em que há liberdade para mover capitais, argumentou, quando o BC compra mais para puxar a cotação acaba criando oportunidades de arbitragem, que atraem mais moeda ao pais.

Segundo ele, se num dia o BC identifica uma sobra de dólares de US$ 100 milhões e resolve comprar US$ 300 milhões, consegue puxar a cotação do dólar, mas apenas temporariamente. A cotação à vista sobe, mas o preço do dólar no mercado futuro, não. Quando a diferença entre a cotação do dólar pronto e futuro se estreita, aumenta o chamado cupom cambial, que a remuneração de quem aplica dólares no país. O cupom cambial mais alto estimula o ingresso de mais dólares no país.

Nessas ocasiões, os bancos tomam empréstimos em dólar no exterior, pagando juros menores, e vendem a moeda ao BC, aplicando os recursos no mercado doméstico. Ao mesmo tempo, fazem operações no mercado futuro, pagando a taxa de juros doméstica e recebendo o cupom cambial. O lucro, sem risco de oscilação de preços no mercado, é a diferença entre o cupom e a taxa de captação de dólares no exterior.

No fim das contas, segundo os argumentos de Torós, quando o BC compra US$ 300 milhões, estimula os bancos a trazerem US$ 300 milhões ao mercado. O BC, então, vê-se obrigado a comprar US$ 300 milhões, em um movimento circular.

Em tese, as intervenções só não funcionam se houver mobilidade de capitais e se o câmbio for flutuante. Se o governo lançar mão de controle de capitais ou adotar um sistema de câmbio fixo, pode ter algum sucesso. Controles de capitais, porém, tendem a ter eficácia apenas temporária, enquanto investidores não encontram formas de contornar as proibições. Regimes de câmbio fixo deixam a economia vulnerável a ataques especulativos, como os vistos nos primeiros anos do Plano Real.

Isso ajuda a entender porque o BC defende o câmbio flutuante, abrindo mão de intervir para determinar a tendência do dólar. A regra vale tanto para apreciação quando para desvalorização do real. Nas semanas seguintes à quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, o BC ficou fora do mercado à vista. Só passou a intervir, sem defender nenhuma taxa de câmbio ou teto, quando a cotação passava de R$ 2,15.

As indicações do BC são de que seguirá comprando as sobras de dólar. Além de não interferir na tendência da cotação, as intervenções obedecem a outros três princípios definidos pelo BC: 1) reforçar as reservas e reduzir a vulnerabilidade externa; 2) não adicionar volatilidade à taxa; 3) procurar corrigir eventuais condições inadequadas de liquidez.