Título: Fuga de estrangeiros da bolsa com IOF perde força
Autor: Camba , Daniele
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2009, Finanças, p. C3

A cobrança de 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimentos estrangeiros em bolsa e em renda fixa chacoalhou o caminhão de dinheiro externo que vinha entrando na Bovespa. No mês, até o dia 19, dia do anúncio da nova tributação, o saldo líquido (diferença entre compras e vendas) de estrangeiro estava positivo em R$ 5,019 bilhões. No entanto, segundo dados de mercado, só na terça-feira (dia 20), o saldo das dez corretoras mais atuantes no dia foi negativo em R$ 975,3 milhões, uma saída significativa para apenas um único pregão. Segundo dados oficiais da Bovespa, no dia 20 houve uma saída líquida de R$ 1,262 bilhão.

Já na quarta-feira, passado o primeiro susto, segundo dados de mercado, o saldo líquido das dez corretoras mais ativas foi negativo em R$ 398,6 milhões, muito menor que no pregão anterior. A bolsa deve divulgar hoje o saldo de quarta. A maioria dessas dez corretoras que lideraram o volume nos dias 20 e 21 é extremamente atuante entre os investidores internacionais. Mesmo sem números preliminares, a percepção de profissionais de mercado é que ontem o movimento foi ainda mais tranquilo, sendo bem pouco negativo e caminhando para o positivo.

O que se espera é que nos próximos dias a tendência de um fluxo positivo de recursos internacionais seja retomada, mesmo que de forma gradativa. Analistas acreditam que os estrangeiros farão contas e perceberão que os 2% não reduzem a atratividade da Bovespa. "O mercado brasileiro continua sendo o que possui o maior potencial entre os emergentes", diz o chefe de renda variável da HSBC Corretora, José Augusto Miranda.

Miranda afirma que os fundamentos econômicos brasileiros são superiores aos dos demais países, portanto, faz todo sentido os ativos locais continuarem a se valorizar. "É fato que o Índice Bovespa já subiu muito neste ano, mas as perspectivas de o PIB brasileiro crescer mais de 5% já no ano que vem são gás suficiente para novas altas", diz o Miranda. A estimativa da corretora é que o PIB brasileiro cresça 5,3% em 2010.

Os investidores estrangeiros também se acalmaram ao perceber que existem formas de continuar investindo na Bovespa sem pagar um tostão. A principal delas seria usando os American Depositary Receipts (ADRs, recibos de ações negociados nos Estados Unidos) das empresas brasileiras.

O mecanismo é o seguinte: o investidor estrangeiro compra o ADR, em seguida solicita ao banco custodiante desses títulos para convertê-los em ações da mesma empresa na Bovespa, sem pagar IOF. A partir de então, esse investidor está livre para comprar e vender ações na Bovespa. Ele não pagaria IOF nem para voltar ao seu país de origem, já que a cobrança é feita na entrada do dinheiro no Brasil. O diretor de operações de um banco estrangeiro, que prefere não ser identificado, afirma que nos últimos dois dias recebeu várias ligações de clientes internacionais interessados em saber como funciona a entrada na Bovespa via ADR. Nenhum deles, entretanto, se mostrou inclinado a abandonar o Brasil, mesmo que seja obrigado a pagar o IOF. Para o investidor de longo prazo, que representa a maioria dos R$ 23 bilhões que já entraram na Bovespa neste ano, esse pagamento de 2% não muda o cenário, acredita o diretor.