Título: Em SC, Maia e ACM Neto pressionam por definição do PSDB
Autor: Jungerfeld , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2009, Política, p. A12

Em um cenário que lembrava um programa de entrevistas televisivo, com uma pessoa no centro de uma roda para perguntas e respostas, os jovens do Democratas se reuniram durante o feriado, em Blumenau, para debater planejamento estratégico, gestão de imagem, liderança e o futuro do partido em 2010. E foi ali, no berço político do presidente de honra do partido, Jorge Bornhausen, que as duas posições que dividem a legenda- a de pressionar o PSDB por uma decisão mais breve sobre a sucessão presidencial, como quer o governador de Minas Aécio Neves (PSDB) e a de acatar o cronograma desejado pelo governador de São Paulo, José Serra - se enfrentaram.

No evento, ao qual acorreram jovens do Brasil inteiro que viajaram de ônibus de todos os lugares do país para um fim de semana calorento em Blumenau, os porta-vozes de ambas as posições esgrimiram seus argumentos. De um lado estavam o presidente do partido e deputado federal Rodrigo Maia (RJ) e o também deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto (BA). Do outro, Bornhausen e o senador Raimundo Colombo (SC).

"A conjuntura mudou. A ministra terminou o tratamento e foi para a rua. A economia deu uma invertida brutal de expectativas. E está no jogo o presidente mais bem avaliado desde Getúlio Vargas que não respeita regra nenhuma para eleger sua candidata. As variáveis mudaram. E é preciso ter uma quadro mais claro para mobilizar melhor as nossas bases", disse Maia. "Quando dei minha opinião, não consultei ninguém. Quis me posicionar. Não posso ficar em cima do muro. Quando há três semanas, fizemos reunião, 99% das pessoas colocaram a mesma preocupação de mudança de rumo".

ACM Neto, muito aplaudido no evento, foi no mesmo rumo: "Lula antecipou muito. E a política é personalista, então é fundamental que exista a figura do candidato. O quanto antes tomar a decisão, melhor. Talvez quem viva no sul e no sudeste do país não tenha as dificuldades de um processo eleitoral de quem vive no Nordeste, onde a política tem uma dinâmica diferente, onde Lula tem uma força maior e capacidade de transferir votos maior. Eu sempre defendi que se antecipasse o processo para arrumar o cenário nos Estados".

Raimundo Colombo, que é pré-candidato ao governo de Santa Catarina, diz que não se vê prejudicado pela demora na aliança nacional. "Estou trabalhando e o PSDB também está com o seu candidato (Leonel Pavan). Mas lá na frente, em junho, vamos sentar e ver aquele que tem melhores condições". Ele disse que tem "simpatia pelo Serra, mas se for o Aécio também está bom".

Bornhausen, referenciado por diversas vezes no evento por ter passado a presidência para a nova geração do partido, foi o mais veemente na defesa da estratégia serrista. "A antecipação de campanha de um governador de Estado leva a um preparo de reações que poderiam atrapalhar a candidatura quer seja a do Serra ou a do Aécio. Acho inteligente manter essa bipolaridade durante o ano de 2009. Atrasar as articulações estaduais é uma perda para o DEM, mas uma candidatura agora será perseguida pelo MST, pela CUT, pela Força Sindical, forças pagas pelo governo e eu acho prudente não entrar nesta guerra antes do tempo", disse, acrescentando que Serra hoje tem "melhores condições eleitorais" para a disputa.

Seu filho, o deputado federal Paulo Bornhausen (SC), disse que o DEM é expectador da definição tucana: "Nossa opinião vale como opinião, não como decisão. Acredito na mediação do Fernando Henrique, que hoje é conselheiro maior dentro no PSDB e tem muita experiência", disse.

O presidente da Juventude do Democratas, deputado Efraim Filho (PB), evita se posicionar entre Serra e Aécio, mas, a exemplo dos Bornhausen, diz não acreditar que a definição do candidato tucano seja emergencial.

Marcelo Puppi, cientista político militante do partido, teme as dificuldades trazidas pela demora na definição: "A demora das oposições prejudica os Estados e isso cria clima de muita dificuldade. Tem problema no Paraná e em Santa Catarina. Enquanto não houver candidato à Presidência, dificilmente se acertarão as alianças estaduais, criado um clima de instabilidade.

Numa conjuntura eleitoral de poucos palanques estaduais competitivos, o DEM corre o risco de encolher em 2010. ACM Neto foi um dos poucos a reconhecer as dificuldades da conjuntura: "A gente vive um momento muito difícil, de muita incompreensão. A mensagem dos DEM não chega e não é compreendida pela população porque temos um governo populista, que é um governo que às vezes faz questão de escravizar intelectualmente o cidadão. Não é pela dificuldade de enfrentar o adversário que hoje reúne forças, que vamos deixar de dizer a verdade".

O discurso predominante no evento era de otimismo. Não há, na opinião dos presentes, divisão no DEM sobre a sucessão de 2010 nem divergências com o PSDB. "O DEM precisa voltar a se fortalecer nos Estados e construir uma base mais forte para em 2014 apresentar um nome à disputa nacional", disse Efraim.

A fim de fomentar candidaturas de jovens em 2010, o DEM aproveitou o evento e lançou um desafio de vídeos para jovens militantes, utilizando o site You Tube, onde poderão postar campanhas para o partido, fazer sátiras políticas etc. "O PT contratou equipe de Obama para campanha de Dilma. O Democratas vai apostar na criatividade dos próprios jovens", comparou Efraim. Para Puppi, o "o papel da juventude nessa eleição vai ser extraordinário, pelos canais de comunicação na internet e rede que agregam".