Título: Com futuro incerto, Palocci estreita relação com empresários
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2009, Política, p. A8

O deputado Antonio Palocci (PT-SP) participou de todas as reuniões da pré-candidata do PT à Presidência, ministra Dilma Rousseff, com partidos aliados. Convidado especial da ministra, Palocci pouco falou nestes encontros, limitando-se a defender algumas ações do governo federal. Mas também reúne-se com a mesma frequência com empresários e representantes do sistema financeiro nacional, em São Paulo, levantando impressões sobre a crise internacional, as iniciativas do governo brasileiro e sondando as principais queixas e demandas do setor. "O presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] ainda não me pediu nada. Mas caso ele me peça para ser candidato ao governo de São Paulo, eu preciso de uma plataforma mínima para apresentar", justifica, segundo relato de um dos presentes a esses encontros.

Considerado um dos principais quadros políticos do PT, Palocci está se tornando onipresente nos projetos governamentais mas ainda prefere a discrição. As intervenções públicas limitam-se aos assuntos sob sua análise - o mais recente, o relatório do Fundo Social, que destina os recursos do pré-sal para saúde, educação, ciência e tecnologia, ambiente, cultura e combate à pobreza.

Segundo auxiliares próximos do presidente, a cautela de Palocci está relacionada ao julgamento do Supremo Tribunal Federal, realizado no fim de agosto, que o livrou do processo por quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. Ministros e assessores governistas acham cedo para uma exposição mais intensa. "É prematuro saber quais seriam as reações se Palocci assumisse de imediato um cargo de destaque", confirmou um assessor do presidente.

Um petista próximo de Palocci disse que o atual papel exercido pelo deputado e ex-ministro da Fazenda - coordenador informal da campanha de Dilma - é o ideal não só para ele, mas para Lula: "O presidente não aguentava mais a pressão para definir rapidamente o destino de Palocci.". Antes mesmo do julgamento do STF, alguns petistas começaram a defender a indicação de Palocci para um cargo no governo - as principais opções eram a coordenação política ou a Casa Civil. Outros lançaram seu nome ao governo de São Paulo. Por fim, houve quem o apontasse como "um plano B" caso a candidatura Dilma não se viabilizasse.

A demora do STF em julgar o caso ajudou o presidente. A candidatura Dilma ganhou nova força após o tratamento do câncer. Em relação aos ministérios, Lula avisou que pretende nomear secretários-executivos para as Pastas que ficarão vagas a partir de abril. Dos dois cargos, um já foi preenchido - Alexandre Padilha assumiu a coordenação política. O outro deve ser ocupado pela subchefe de articulação e monitoramento da Casa Civil, Miriam Belchior.

A disputa pelo governo de São Paulo também está praticamente definida. O candidato de Lula é o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Nas últimas semanas, o diretório paulista do PT fez discursos elogiosos a Ciro, divulgou notas de apoio, apresentou nomes para vice em uma chapa com o parlamentar cearense: Edinho Silva, presidente do diretório estadual do PT, ou Emídio de Souza, prefeito de Osasco. No fim da semana passada, após um debate sobre o pré-sal realizado em São Paulo, Palocci disse que Ciro é um grande companheiro: "Se por alguma razão ele decidir desenvolver atividade aqui em São Paulo, vai ter todo o companheirismo que merece."

Um dirigente petista afirmou ao Valor que a única possibilidade de Palocci concorrer ao governo estadual seria o fracasso das negociações entre PT e PSB. Segundo este petista, o diálogo de Palocci com o empresariado não significa, necessariamente, um trabalho do deputado para consolidar a própria candidatura. "Ele pode estar coletando informações para a campanha Dilma. O diálogo privilegiado com o PIB levou Palocci ao Ministério da Fazenda e este prestígio não foi arranhado com o episódio do caseiro. Palocci será fundamental na aproximação da ministra com o setor empresarial", defendeu.

Pessoas próximas à ministra afirmam que Dilma estabeleceu uma boa relação com importantes grupos econômicos graças à atuação tanto no Ministério de Minas e Energia quanto na Casa Civil. Mas reconhecem que, pela própria característica dos projetos conduzidos por ela, este relacionamento está consolidado no setor de infraestrutura. Palocci circula em um grupo mais amplo. "Ele ganhou credibilidade por ser um dos principais artífices da Carta ao Povo Brasileiro", lembrou um petista, referindo-se ao documento lançando pela campanha de Lula em 2002 para tentar atenuar a pressão nos mercados, receosos com a possibilidade de uma vitória petista.

Para outros companheiros de coordenação de campanha, a presença de Palocci no grupo agrega "qualidade no debate político". Palocci estabelece um contraponto à Dilma, que não tem nenhuma experiência em campanhas eleitorais e só agora começa a desenvolver a habilidade política no relacionamento com outros partidos. "O principal coordenador da campanha de Dilma é o presidente Lula. Mas não tenho dúvidas que Palocci terá um papel estratégico na eleição, caso não concorra ao governo paulista", completou um ministro.