Título: Israel, "suaviza" bloqueio
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2010, Mundo, p. 29

Autoridades liberam a entrada de batatas crocantes, refrigerantes, creme dental e outros produtos na Faixa de Gaza. Palestinos reclamam

Tudo o que 1,5 milhão de palestinos na Faixa de Gaza desejam é liberdade para exportar e importar produtos, transitar livremente pelas fronteiras e desenvolver a economia de seu território. Para 1 milhão deles, a eletricidade não passa de sonho ¿ 20 mil nem sequer têm um lar digno e vivem em tendas. Em uma concessão questionada por ativistas, o governo israelense suavizou o bloqueio à Faixa de Gaza. Mas em vez de permitir a entrada de cimento, Israel autorizou apenas o ingresso de batatas crocantes, refrigerantes, balas, biscoitos, temperos, sucos, geleias e creme de barbear. Além de não poder reconstruir as 11 mil casas, 105 fábricas, 20 hospitais e clínicas, 159 escolas e universidades danificadas durante a guerra, entre o fim de 2008 e o início de 2009, a população está impedida de receber medicamentos e matéria-prima para indústrias.

A decisão está longe de agradar aos palestinos e colocou o Reino Unido no centro de um escândalo. ¿Não é isso o que desejamos. Queremos o fim do embargo, para termos vida¿, disse ao Correio, pela internet, o estudante Homan Al-Ghussein, 18 anos, da Cidade de Gaza. ¿Os israelenses estão fazendo isso por medo da opinião do mundo, ainda que eles não deem uma m¿ para ninguém¿, acrescentou. O ativista pró-direitos humanos Ibtihal Al-Aloul, 24 anos, concorda com Homan. ¿Precisamos de uma completa suspensão do bloqueio. Não apenas para algumas bebidas, mas também materiais de construção e coisas importantes, como madeira, plástico, vidro para as janelas quebradas e combustível para geradores de energia¿, comentou. Um documento secreto divulgado pelo jornal britânico Daily Telegraph sustenta que o Reino Unido teria proposto a Israel suavizar o embargo em troca da desistência de um inquérito internacional.

Sobreviventes Pela internet, o Correio conversou com o italiano Giuseppe Joe Fallisi, o primeiro tenor a se apresentar na Faixa de Gaza e um dos sobreviventes do ataque israelense à flotilha humanitária Liberdade, no Mar Mediterrâneo. ¿Os israelenses são os piores criminosos, racistas e mentirosos hipócritas. Peça a eles para deixarem-nos entrar em Gaza com as casas ou as toneladas de cimento que levamos¿, esbravejou. ¿Estão tentando limpar o que fizeram contra nós e o que estão fazendo contra o povo palestino nestes 62 anos¿, acrescentou, de sua casa em Ostuni (no sul da Itália).

Na madrugada de 31 de maio passado, Fallisi estava a bordo do barco 8000, logo atrás e à direita do MV Mavi Marmara, a embarcação invadida pelos comandos israelenses. ¿O que mais me chocou foi a mira infravermelha das armas apontada na escuridão, sobre nossas cabeças e nosso peito¿, disse o tenor. O norte-americano Kenneth O¿Keefe, 41 anos, estava no navio no qual nove ativistas foram mortos pelos militares. Fundador da ONG Aloha Palestine, ele acusou Israel de passar uma imagem de governo ¿razoável e humanitário¿. ¿Isso não vai mudar nada. É uma ação de um Estado que submete um povo a uma situação horrenda por vários anos¿, critica o ativista, que sofreu concussão cerebral após ser espancado por agentes da imigração israelenses, antes da deportação, no aeroporto de Telavive.

Ouça a entrevista com Kenneth O¿Keefe, sobrevivente do ataque israelense à flotilha humanitária

Eu acho... Arquivo pessoal

¿Os israelenses sabem quais são as necessidades de Gaza¿ Não são batatas, mas libertação dos palestinos em relação aos assassinos sionistas, invasores e vampiros. Eles são predadores, e sua meta é completar a limpeza étnica na Palestina.¿

Giuseppe Joe Fallisi, tenor italiano, sobrevivente do ataque à flotilha humanitária Liberdade