Título: Em dez anos, preço de passagem aérea cai 34% no Brasil
Autor: Komatsu , Alberto
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2009, Empresas, p. B3

Apesar de a aviação comercial brasileira ter presenciado dois dos maiores acidentes aéreos de sua história, caos nos aeroportos e o fim de alguns de seus maiores protagonistas nos últimos 10 anos, um estudo da Bain & Company mostra que o ganho de eficiência das companhias aéreas, nesse período, também trouxe boas novas.

A análise mostra que a acirrada competição no setor aéreo vai se traduzir em um recuo de 34% no preço das passagens de 1998 até o fim deste ano. E isso vai acontecer mesmo com o aumento de 224% no preço do barril do petróleo no mesmo intervalo de tempo.

Essa previsão de queda no preço das passagens leva em consideração a sazonalidade dos últimos três meses do ano, período de alta temporada, quando há um aumento médio de tarifas de até 10%, segundo a Bain. A Gol, por exemplo, já anunciou que planeja um aumento de 20% no preço dos bilhetes aéreos até o final do ano, após uma intensa disputa por passagens mais baratas travada principalmente com a TAM, mas que foi reforçada pela estreia da Azul, em dezembro de 2008, e pelo crescimento de companhias como OceanAir e Webjet.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) também constatou a redução dos preços das passagens. Levantamento da Anac mostra que o valor pago pelos passageiros por quilômetro transportado (yield tarifa, no jargão do setor) foi de R$ 0,41 em setembro, o que representou um recuo de 29,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

Esse índice é atualizado mensalmente de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede oficialmente a inflação do país. A Anac também mediu a tarifa média praticada nas 67 ligações aéreas monitoradas por ela. Em setembro, o valor médio foi de R$ 267, sendo que no mesmo mês do ano passado era de R$ 415,18, uma queda de 35,6%.

Num cenário de passagens mais em conta, o volume de passageiros embarcados em voos domésticos vai mais do que triplicar de 1998 até o fim deste ano, de 16,5 milhões para quase 60 milhões. As projeções foram feitas com dados acumulados até junho.. Mas toda essa evolução, segundo o estudo da consultoria, não foi suficiente para melhorar a infraestrutura do sistema aéreo.

"O que levou a essa queda de tarifa foi a substituição das empresas ineficientes pelas eficientes, leia-se Gol e TAM", afirma o especialista em aviação da Bain & Company, André Castellini.

Em 1998, lembra ele, TAM, Transbrasil, Varig e Vasp formavam o bloco das empresas de grande porte que disputavam os voos domésticos. Dez anos mais tarde só restaram TAM e Gol - esta última comprou a Varig em 2008 - nesse grupo. No mercado internacional, a hegemonia da Varig na década passada foi substituída pelo atual predomínio da TAM.

Castellini afirma que o barateamento das passagens e o aumento do fluxo de passageiros foram possíveis porque, em 10 anos, a utilização diária dos aviões saltou de 6,9 horas para 12,9 horas, uma expansão de 87%. A oferta média de assentos por quilômetro avançou de 89 milhões, em 1998, para 515 milhões, no ano passado, o que representa um crescimento de 479%. A receita bruta das aeronaves, por sua vez, era de R$ 21 milhões e passou para R$ 99 milhões no mesmo período de comparação.

"O que permitiu esse cenário foi a redução de custos e a rivalidade muito acentuada das duas principais empresas. E essa rivalidade se manifestou na ampliação da frota", diz Castellini.

O aumento do número de aviões na aviação comercial brasileira foi constatado pela Bain. Segundo a consultoria, a agressividade das empresas fez com que a oferta de assentos por quilômetro crescesse mais do que o dobro da variação anual do Produto Interno Bruto (PIB) desde 2006.

No primeiro semestre deste ano, enquanto o PIB recuou 1,2%, a oferta de assentos avançou 11% e a receita por passageiro por quilômetro teve expansão de 4%.

Com as compras de aviões novos, TAM e Gol têm atualmente uma das frotas mais modernas do mundo, de 5,9 anos e 7,4 anos respectivamente. Só perdem para a irlandesa Ryanair (2,8 anos) e para a americana JetBlue (4,1 anos). Os dados são de setembro de 2009, de um site especializado em aeronaves, o airfleets.

O desenvolvimento das companhias aéreas, porém, traz um dado preocupante. Castellini afirma que "pouco ou nada se fez" para melhorar a infraestrutura dos aeroportos nos últimos 10 anos. O estudo da Bain alerta para a necessidade de a capacidade aeroportuária ter de triplicar em 20 anos para poder acomodar a demanda que será gerada no período.

A Copa do Mundo de Futebol de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, acrescenta a análise, "tornam ainda mais urgentes" as melhorias na infraestrutura aeroportuária. E como prioridade é citada a ampliação da capacidade dos terminais de São Paulo, que já estão operando no limite.