Título: Brasil não levará meta climática, diz Lula
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2009, Internacional, p. A11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem que o Brasil não levará metas de redução de emissão de gases-estufa para a conferência do clima da ONU, em Copenhague em dezembro. Em rápida entrevista coletiva na porta do hotel Dorchester, em Londres, Lula deixou claro que o Brasil, em vez de se comprometer com uma meta, quer negociar um "número factível" com outras nações, como Estados Unidos, China e Índia.

Lula tratou do tema durante encontro com o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown. Na reunião, ficou acertado que Lula falará com o presidente dos EUA, Barack Obama, e com outros líderes, para tentar definir um compromisso sobre redução de emissão de gases e estratégias de captura de carbono.

"Isso nós vamos tentar construir, porque o que pode acontecer de pior em Copenhague é a sociedade mundial perceber que os líderes não estão assumindo responsabilidades pela gravidade dos problemas que o mundo criou nos últimos anos", afirmou o presidente, acrescentando que os valores têm que ser "factíveis". "Vamos assumir um compromisso junto com a comunidade internacional, com um número construído junto com essa comunidade."

O único percentual mencionado por Lula, com o qual o Brasil segue comprometido, segundo ele, diz respeito ao desmatamento da Floresta Amazônica - redução de 80% até 2020. Este compromisso foi assumido pelo presidente na última assembleia da Organização das Nações Unidas.

Lula deixou claro também que só irá à reunião de Copenhague, entre 7 e 18 de dezembro, se outros líderes mundiais confirmarem presença. Segundo ele, Gordon Brown lhe pediu para convencer Obama a comparecer.

O Brasil, ao preparar a sua proposta para a conferência de dezembro, "fez uma escolha clara de não apostar no fracasso e, ao apresentar suas ações, contribuir para o êxito de Copenhague", afirmou Luiz Alberto Figueiredo Machado, o chefe dos negociadores brasileiros. Ele chegou ontem a Barcelona, onde ocorre a última rodada de negociação antes da cúpula de Copenhague (a chamada CoP-15).

Por ora, em Barcelona, sabe-se que o texto de um acordo climático avança em temas "acessórios" de finanças, por exemplo, "mas não nas cifras", nas palavras de um diplomata do G-77, o grupo dos países em desenvolvimento.

Ontem, os europeus esclareceram sua proposta de finanças, que foi fechada na semana passada. Por suas contas, serão necessários ¿ 100 bilhões anuais em 2020 para combater o aquecimento. A Comissão Europeia diz que é preciso começar urgentemente com um fluxo de recursos aos países mais pobres e que deveria ser de ¿ 5 bilhões a 7 bilhões ao ano para o período entre 2010 e 2012.

A lentidão nas negociações em Barcelona contrasta com alguns dados divulgados pelo IPCC (o braço científico da ONU sobre clima), que adiantou partes de seu próximo relatório. Por este estudo, a temperatura está 29% mais alta do que em qualquer outro período em 800 mil anos. E os efeitos do aquecimento estão sendo mais rápidos e mais fortes do que o próprio IPCC previu anteriormente. Os cientistas da ONU começam a indicar que a meta, já difícil, de chegar a um aumento de 2°C na temperatura no final do século pode ser insuficiente e que talvez seja necessário um acordo de redução de emissões que estabilize o aumento da temperatura em apenas 1,5°C.

A repórter Daniela Chiaretti viaja a convite da organização da CoP-15