Título: Itália busca recuperar espaço perdido no Brasil
Autor: Saccomandi , Humberto
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2009, Brasil, p. A5

A Itália relegou a relação com a América Latina nos últimos 20 anos; agora, busca recuperar espaço e quer participar dos grandes projetos de investimento no Brasil. É o que diz Claudio Scajola, ministro do Desenvolvimento Econômico da Itália, que chefia a missão italiana que participa hoje do Fórum Empresarial Brasil-Itália.

As possibilidades de negócios envolvendo PAC, Copa, Olimpíadas, pré-sal e energia trouxeram a São Paulo cerca de 350 empresários e executivos italianos. O Fórum será realizado a partir das 9h, na Fiesp, e será aberto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O objetivo da missão é consolidar e relançar as relação entre a Itália e o Brasil. Já há no Brasil cerca de 300 empresas italianas. Queremos crescer ainda mais, há espaço", afirmou Scajola (pronuncia-se "scaióla") em entrevista ao Valor. Segundo ele, estão previstos 1.600 encontros entre empresas.

"Queremos intensificar as relações com a América Latina, relegadas nos últimos 20 anos, e queremos o Brasil como o ponto cardeal para uma maior presença" na região, disse Scajola, aliado fidelíssimo do premiê Silvio Berlusconi.

Esse distanciamento fica evidente nos dados de investimento externo no Brasil. A Itália, nos últimos quatro anos, deixou de figurar na lista dos dez maiores investidores estrangeiros no país.

"Deixamos espaço para outros países que tinham uma história menor de relação com a América Latina. Queremos recuperar um percurso e queremos intensificá-lo", afirmou o ministro italiano.

Desses 20 anos citados, por mais de sete anos a Itália foi governada por Berlusconi, que nunca esteve na América Latina. Scajola disse que o premiê pretende visitar o Brasil em 2010. Em 2011 está prevista a celebração do ano da Itália no Brasil.

Mas essa reaproximação não inclui toda a região. A missão italiana visitará apenas Brasil e Chile. Sobre a Argentina, segunda maior economia da América do Sul e que tem profunda relação com a Itália, "temos preocupação com uma posição de não abertura em relação ao livre mercado, o que vimos recentemente no caso Telecom", disse Scajola, referindo-se a problemas da Telecom Italia, que quer vender seu negócio na Argentina.

"O Brasil cresce a um ritmo forte e tem pela frente dois fatores de crescimento ainda mais acelerado, a Copa em 2014 e a Olimpíada em 2016, que são ocasiões de grandes investimentos."

Scajola destacou as oportunidades no trem de alta velocidade e no pré-sal, citando a empresa Fincantieri como possível fornecedor de plataformas e navios. "Para atingir os objetivos ambiciosos que o Brasil tem, é preciso formar um eixo industrial, ter diversas empresas qualificadas. A Itália acha que tem excelentes empresas e pode dar uma mão."

Nesse processo, os governos têm o papel de construir o marco no qual as empresas vão operar. Para isso, o ministro diz esperar que Brasil e Itália assinem, "no início do ano que vem", um acordo de parceria, mas não deu detalhes.

"Queremos aumentar os investimentos italianos no Brasil em diversos setores, como energético, construção naval, infraestrutura. Temos excelência, podemos transferir tecnologia e podemos construir juntos atividades industriais aqui no Brasil para a utilização desses produtos no Brasil e na região", afirmou Scajola, citando o objetivo de ter o Brasil como plataforma para a América do Sul.

Apesar de querer levar capital brasileiro à Itália, Scajola não tergiversa. "Somos um país pouco atraente para investimentos", disse, atribuindo isso ao histórico de instabilidade política no passado. "Os setores mais lógicos para investidores brasileiros na Itália são o de energia e o agro-alimentar, no qual vocês podem aportar a sua experiência significativa."