Título: ONU tenta avançar acordo anticorrupção
Autor: Peel , Michael
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2009, Internacional, p. A11

Autoridades das principais economias mundiais estão em divergência sobre um acordo para combater casos de corrupção, que os idealizadores e o Banco Mundial consideram crucial para recuperar fundos roubados por líderes corruptos e mantidos no exterior.

Países do Ocidente, como o Reino Unido, vêm batalhando contra a China e várias outras nações sobre a convenção anticorrupção da Organização das Nações Unidas (ONU), cujos termos, supostamente, deveriam ser concluídos em uma reunião no Qatar, nesta semana, segundo fontes a par da situação.

O acordo da ONU é amplamente visto como fundamental na luta internacional contra a corrupção, graças a sua abrangência mundial e ao fato de centrar-se, em parte, em métodos práticos para conseguir a devolução de fundos roubados em países pobres.

O diretor-executivo do Escritório contra Drogas e Crimes, da ONU, Antonio Maria Costa, instou os membros a acertarem o acordo para evitar que a convenção torne-se "uma oportunidade histórica terrivelmente perdida".

"Acredito que seria uma grande decepção para muitas pessoas - contribuintes, vítimas de corrupção e, é claro, nós - se não se alcançar um acordo", afirmou.

A disputa sobre o encontro no Qatar centra-se na forma como o cumprimento da convenção foi revista e monitorada, disse Costa.

Países como a China, Paquistão e Egito expressaram preocupação sobre o grau de envolvimento de grupos não governamentais no processo. Também receiam sobre o grau de divulgação pública que os resultados terão e até que ponto o processo será intrusivo, segundo as fontes. Não foram encontrados representantes desses três países para comentar o assunto.

Costa não quis falar sobre países em particular, dizendo apenas que não deseja ver a convenção tornando-se um comboio viajando "na velocidade do navio mais lento". "Sociedades diferentes possuem reações diferentes a isso", afirmou. "Portanto, tudo isso terá de ser levado em conta."

Um motivo para convenção ser vista como uma ferramenta importante é o fato de ter sido ratificada por 141 países, contra apenas os poucos países industrializados que assinaram o tratado contra corrupção da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Outro é que convenção tem alcance muito mais amplo do que o acordo da OCDE, apresentando mecanismos para cooperação internacional no cumprimento das leis.

A convenção ganhou o apoio de importantes líderes empresariais, sendo que 24 deles - como Jeffrey Immelt, da General Electric, e Tianwen Huang, da Sinosteel Corporation - assinaram documento defendendo que o encontro em Doha estabeleça um processo de avaliação convincente.

Ngozi Okonjo-Iweala, diretora-gerente do Banco Mundial, que é uma dos colíderes de um projeto internacional para recuperar fundos oficiais roubados, afirmou que o nervosismo sobre a revisão do processo era compreensível, mas que não deve permitir-se que obstrua os esforços.