Título: Prospeção atrai novas empresas
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Fonte: Valor Econômico, 10/11/2009, Especial, p. F6

As perspectivas para a geração de energia alternativa têm atraído novas empresas francesas ao país. Em 2008, após um período de observação do mercado, a gigante Areva - presente em 41 países - adquiriu o controle da brasileira Koblitz, empresa de engenharia fundada em 1975 e com mais de 300 projetos de usinas de biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Segundo o diretor comercial da Areva Koblitz, Romero Rêgo, a operação brasileira representa hoje 30% da receita mundial da divisão de renováveis da Areva. "Os projetos para biomassa respondem por 70% do faturamento no Brasil e continuarão a ser o carro-chefe", informa Rêgo.

Presente na Grécia e na Guiana Francesa, a Voltalia chegou ao Brasil há três anos e quer gerar, a partir de 2013, 200 MW por meio de uma combinação de usinas eólicas e PCHs. A companhia levará ao leilão de energia eólica do governo quatro usinas no Ceará, com capacidade total de 109 MW, e planeja iniciar em 2010 a construção de duas PCHs em MG, com total de 6MW, e uma no Amapá, com 7,5 MW. "Estimamos grande potencial para o mercado brasileiro", diz o diretor-executivo Robert Klein.

Com foco na produção de energia fotovoltaica, a ReWATT escolheu Fortaleza como sede da filial brasileira, atraída pela vocação do Estado para geração solar. "Deve ter um dos maiores rendimentos do mundo", observa o diretor Philippe Byron, que no fim de outubro foi à Cemig conhecer a experiência da empresa em geração fotovoltaica e avaliar possibilidades de parceria. Segundo ele, a exemplo do que ocorreu em outros países, o desenvolvimento da geração solar no Brasil precisa de apoio do governo, o que levaria, entre outros benefícios, à criação de uma cadeia produtiva, com importante geração de empregos.

Um exemplo do possível efeito propagador mencionado por Byron é o interesse com que a Dubuit, tradicional fabricante de máquinas para serigrafia, há 45 anos no país, acompanha as discussões sobre energia solar no Brasil. Na França, desde a década de 90 a companhia fabrica máquinas para aplicação de prata nas células usadas na geração fotovoltaica. "Provavelmente, com um mercado crescendo aqui, seria estudada a possibilidade de fabricar essas máquinas no Brasil", diz Gregory Brette, responsável de exportação e importação do Grupo Dubuit na América Latina.

Vista com menos entusiasmo por formuladores da política de energia elétrica do governo brasileiro, que por enquanto a consideram cara e aplicável apenas a fins específicos, a geração solar tem obtido crescimento relevante na França - embora represente menos de 0,5% da matriz - e em outros países do mundo. "É impressionante a quantidade de energia solar disponível e o uso que fazemos dela. É um desperdício", comentou Jean-Luc Hognon, gerente de projetos do CEA-Liten (Laboratório de Inovação em Tecnologias de Energias Novas e Nanomateriais, ligado ao Comissariado de Energia Atômica da França), que veio ao Brasil conhecer o mercado e avaliar possibilidades de parceria. Com três principais áreas de atuação - energia solar, transportes do futuro e aplicação de nanomateriais na energia -, o Liten é um dos principais centros europeus de pesquisa em novas tecnologias na área de energia e em 2008 registrou 96 novas patentes.

Especializada em energias renováveis e monitoramento do meio ambiente, a consultoria Enviroconsult também vê espaço para bons negócios no Brasil. Segundo o diretor-geral, Olivier Decherf, a empresa negocia com o governo do Rio Grande do Sul um contrato de monitoramento da qualidade do ar em parceria com a Voltalia e apoio do governo francês. Com experiência nos Jogos Olímpicos de Pequim - onde a empresa atuou na melhoria da qualidade do ar -, o executivo quer participar do planejamento da Olimpíada do Rio de Janeiro. "Os próximos cinco, seis anos vão ser desafiadores e instigantes no Rio", comenta.

Neste cenário movimentado, a Proparco, instituição de fomento administrada pelo governo francês em parceria com acionistas privados, chegou ao país em 2007 com o objetivo de conceder US$ 100 milhões ao ano em financiamentos para o setor privado, principalmente em projetos de energias renováveis, eficiência energética, biocombustíveis e outras áreas que promovam o desenvolvimento sustentável. "Não queremos competir com o BNDES ou com a Caixa. Temos complementaridade", afirmou o representante da Proparco no Brasil e na América do Sul, Christophe Blanchot.

Essas e outras empresas francesas - como Converteam, Ugimag e Velcan - estiveram no Rio no fim de outubro para participar do Seminário França-Brasil de Energias Renováveis e Biocombustíveis, realizado pela Ubifrance (agência do governo francês para internacionalização das empresas), pela rede das missões econômicas do governo da França no Brasil e pela Câmara de Comércio França-Brasil.

Segundo Dominique Mauppin, representante da Ubifrance no Brasil e chefe da missão econômica de São Paulo, até o fim do ano terão sido 60 eventos com a participação de empresas francesas, entre seminários e feiras internacionais. O trabalho de prospecção e promoção atingirá, ao todo, mil empresas francesas em 2009, contra 200 de três anos atrás. De lá para cá, o número de companhias que, depois de contatadas, decidiram vir ao Brasil por pelo menos uma semana passou de 80 para 500.

"Em novembro do ano passado, para o lançamento do Ano da França no Brasil, atraímos 116 empresas francesas para uma semana e, dez meses depois, sabemos que mais de 40 delas ou abriram filial ou fizeram algum contrato no país, seja de venda ou parceria com empresa brasileira." (D.H.)